O MPLA é de socialista ? Comunista ? de Esquerda ?

Uma jovem fez um vídeo dizendo que o MPLA não é um partido comunista ou de esquerda, com aquele tom arrogante de quem acha estar dizendo coisas óbvias, porém foi apenas um embaraço de confusões, sendo que se precisa esclarecer os termos (Ideologia, Socialismo, Comunismo) e depois refutar a adolescente de ponto a ponto.

O que é uma ideologia ?

Ideologia é conjunto de premissas que permitem ter uma explicação total do mundo sem que haja necessidade de recorrer a detalhes dos casos particulares, como se fosse um pensamento magico que apela a forças além das causas imediatas de um acontecimento.

As ideologias políticas são narrativas de legitimidade, de modo a justificar o direito de uma corrente política ao poder, identificar seus inimigos e amigos, sendo que as políticas económicas são apenas uma das formas que esta narrativa pode se materializar.

O que é o Socialismo e o Comunismo.

Apesar das diferenças, o socialismo e o comunismo partilham da mesma narrativa de legitimidade: a luta de classes, de modo a por fim a agressão do opressor sobre o oprimido, sendo que estas duas classes podem ser definidas de modo económico, racial, social, religiosos, ou mesmo sexual, naquilo que pode ser chamar de “revolução diversitaria”.

O Comunismo de tipo Marxista requer um “Partido de Comando”, constituído pelos intelectuais, que deve ser a vanguarda da revolução e liderar as massas proletárias, pois estas estão alienadas e não tem consciência de classe.

Em suma, o comunismo é uma estratégia de conquista do poder por meio da mobilização das massas de modo a criar uma situação revolucionaria que coloca o Partido de Comando no Poder, com as políticas económicas comunistas sendo apenas um dos vários instrumentos que podem ser usados para atingir este objectivo.

Além das similaridades, o facto do socialismo ser usado como fase de transição para a o comunismo justifica o facto das duas ideologias serem muitas vezes usadas de modo intercambiáveis, mas não são a mesma coisa.

O ultimo elemento que define o comunismo é o seu carácter internacionalista e universal, que permite as Elites de países de culturas radicalmente diferentes de comunicar de forma inteligível e se apoiar uma as outras.

O facto do MPLA ter todos estes elementos, 1) discurso de legitimidade na base da luta de classes, 2) Partido de comando, 3) fazer parte de uma rede internacional nacional-socialista, faz dele um partido comunista-socialista.

Feitos estes esclarecimentos, vamos refutar a jovem por linha:

Eu estou farta de falar sobre esse assunto, principalmente com pessoas ignorantes e que não têm conhecimento nenhum do que é que é socialismo ou do que é que é comunismo. Muitos até dizem que o próprio MPLA é um partido comunista, quando o comunismo nem sequer há Estado e nem classes sociais, enfim, enfim. Tem que ser muito leigo na matéria para dizer que o MPLA é um partido socialista mesmo e até comunista.

Karl Marx realmente definiu o “Comunismo” como um Estado de Anarquia Utópica a ser alcançado depois do triunfo da Revolução, porém em todos os casos de revolução comunista o Comunismo real se resume mesmo a hegemonia política, social e económica do Partido. Uma ideia não é real só porque a enunciamos.

Primeiro lugar, que em Angola tu não ouves falar de marxismo, em Angola tu não ouves falar de comunismo, de socialismo, tu nem sequer estudas esses diferentes modelos socioeconómicos, né? (0:32) Tu não estudas isso. Como um país socialista pode não estudar o socialismo? (0:36) Um mundo estranho.

O Comunismo e o Marxismo são tácticas de conquista do poder, e suas propostas económicas tem como objectivo criar instabilidade política e social que desencadeiam uma revolução que coloque o Partido no Poder, estando já o MPLA no Poder, não há motivos de recorrer a este expediente. Marcolino Moco disse que aderiu ao MPLA porque leu os livros de Neto e de outros autores comunistas na decada de 60, o que é normal pois o objectivo era a conquista do poder e a mobilização das massas.

Não há necessidade de “estudar socialismo” em Angola porque o padrão da economia da nossa cultura já é socialista.

Como um partido socialista tem no seu programa um projeto que visa privatizar, já privatizou 32 ativos e pensa em privatizar muito mais e muitas empresas, como?

Porque os partidos comunistas-socialistas, a nível do mundo, sabem que a economia de comando não funciona, e adoptaram todos um modelo de economia mista e recebem sua assessoria económica directamente dos escritórios do FMI.

Porquê que a Angola não se candidatou aos BRICS?

Isto é sintoma de uma mente memetizada por uso excessivo de Internet.

Porquê que o Adalberto Júnior reclamou há dias numa notícia que o Estados Unidos está desligado e está, meio que, a favoritar o MPLA? Ou seja, o maior aliado histórico do país, que é a maior oposição em Angola e é de direita, está a cooperar com os tais comunistas e os tais socialistas.

É absurdo dizer que os EUA como um todo são “de direita” e que sua suposta aliança com o MPLA seria prova que o Partido é de direita, até porque os EUA cooperaram com regimes de todas as perversões ideológicas no passado.

Antes de disseminarem falsas informações na internet, ponham mesmo no Google, não custa nada o que é comunismo e qualquer pessoa que sabe e entenda um pouco do comunismo sabe que nenhum país na história do mundo alcançou o comunismo.

Diz quem acha que comunismo iniciou e acabou com Karl Marx.

E que o MPLA não é um partido socialista, porque senão nós não teríamos passado de República Popular de Angola para República de Angola.

O Governo do MPLA travou uma guerra para impedir isto, sendo que teve de ceder depois de varias derrotas e perder seus dois maiores aliados, o que esta moça diz não é uma ideia mas apenas o sintoma da ausência de qualquer contacto com o mundo real, sendo que ela vive no mundo das ideias livres em que as pessoas podem fazer tudo o que quiserem.

Outro exercício mental que eu também tenho que fazer ou se questionar. Outro conceito que eu acho muito bom de vocês pesquisarem é o conceito de ditadura da burguesia. Para Marx, qualquer Estado é uma ditadura. Agora, depende dos interesses que esse Estado defende. E quando esse Estado defende os interesses dos burgueses, dos ricos, de uma classe só e não em prol do povo, isso chama-se ditadura burguesa. Ou vocês acham que o MPLA está mesmo muito preocupado em instalar uma ditadura do povo, uma ditadura do proletariado, que vende e seja o músculo da classe trabalhadora? Não.

A ditadura do proletariado de Marx não é um conceito de governo dos proletários, como que por principio democrático, mas de um governo da Elite intelectual em nome dos direitos dos proletários. O partido comunista Angolano já esta no Poder desde 1974, o resto não importa.

Eu sei que os níveis de pobreza e de precariedade de Angola não permitem o exercício e a prática realmente de um senso e um pensamento crítico.

Um argumento não dito, mas que esta implícito, é que sendo que o socialismo é bom, sabendo que o MPLA governa mal Angola, logo o MPLA não poder ser socialista pois não governa bem. Que é um discurso de legitimidade que esta abaixo das ideias, sendo apenas uma tentativa de monopolizar a moral a seu favor.

O vídeo completo

Geopolítica Provinciana Angolana: Conferencia de “Paz”

Cesar reduziu isto a uma questão sentimentos feridos, com um JLO Afrocrata a defender a honra de seus “colegas de raça negra”, o que esta muito longe da verdade, mas esta próximo da tradição de Geopolítica Provinciana Angolana.

JLO advoga por uma solução negociada, não pode ir a conferencia de paz sem a Russia estar presente.

Russia não foi convidada para a “Conferencia de Paz” de Zelensky e esta define “paz” como vitoria militar da Ucrania, sendo por isto uma conferencia de aliados na busca de uma derrota militar de Moscovo que traga “paz” , o que JLO não pode aceitar pois advoga uma paz negociada que incluiu a Russia.

Ao discursar na abertura da reunião do Comité Central do MPLA, João Lourenço disse que há que “assegurar uma paz duradoura para a Europa no seu todo, o que implica necessariamente haver, em algum momento que se considere adequado, negociações directas entre a Rússia e a NATO”.

Mais um exemplo de geopolítica provinciana Angolana.

POR QUE JOÃO LOURENÇO REJEITOU O CONVITE DE ZELENSKY?
JLO disse “NÃO” ao convite de Zelensky, mas…
Bem, Zelensky está a realizar uma série de conferências, as denominadas “Conferências da Paz”.
Com essas conferências, ou melhor, nestas conferências, Zelensky convida os seus amigos para discutir assuntos relacionados com a injustificável invasão da Rússia à Ucrânia.
Com isso, Zelensky pretende apresentar a sua visão e ganhar a simpatia do mundo e, consequentemente, conseguir apoio.
Foi com esta intenção que Zelensky convidou o presidente de Angola, João Lourenço, porque Zelensky sabe que, à partida, o presidente angolano, JLO, tem dado sinais claros de que já não está alinhado com o seu aliado de longa data, a Rússia.
E, sim, de facto, Angola de João Lourenço afastou-se da Rússia – e ainda bem.
Mas Zelensky esqueceu-se das ofensas que o seu governo fez aos líderes africanos.
Foi em 2023, quando a União Africana (UA) enviou a “Troika” – órgão da UA que trata dos assuntos da paz em África.
Naquele ano, a UA investiu muitos recursos e enviou uma equipa com os presidentes da África do Sul, da Zâmbia, do Quénia e o então presidente da União Africana (UA), o mr. Azali Assoumani.
Essa equipa foi até à Ucrânia, apresentou a solidariedade dos povos africanos aos ucranianos e também um projeto de paz e, depois, passou pela Rússia e disse a Putin: “Chega”.
Mas, dias depois, o amigo direto de Zelensky, quando questionado sobre a visita dos líderes africanos à Ucrânia, não hesitou e disse: “Eles não entendem nada sobre isso, eles vieram pedir comida”.
Foi uma grande falta de respeito à soberania das nações africanas, como sempre.
E claro, os líderes ouviram, analisaram, mas não quiseram levantar muita poeira em volta do assunto, com a exceção do presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, que, dias depois, deu um “reto” verbal a Macron: “Nós não estamos aqui para mendigar, respeitem-nos!”
É nessas condições que JLO aproveitou para dizer “NÃO” ao convite de Zelensky.
JLO mostrou a Zelensky que: “Ele não está com a Rússia, mas também não são amigos”. Apenas isso.
“E até lá, estou-me nas tintas”.

César Chiyaya, @cesarchiyaya no Twitter (X)

O publico alvo, de crânio leve, apreciou a analise:

O papel da oposição no fracasso da democracia em Angola.

O papel da oposição no fracasso da Democracia em Angola.

Pode parecer estranho dizer que a oposição Angolana, constituída da UNITA, seus auxiliares da dita sociedade civil e os jornais com uma linha editorial ditada por um preconceito anti-MPLA, contribui para a do fracasso da Democracia em Angola, afinal lutaram “pela realização de eleições”, porém este é exactamente o problema, eles lutam apenas pela parte que lhes traria um beneficio directo, “estar no Poder”, e não participam na parte mais importante da democracia: 1)livre discussão de ideias de modo a encontrar soluções e 2)convencer as pessoas a aceitar as soluções.

Este fracasso é evidente quando revisitamos 3 polémicas a “fome relativa”, o aumento do preço dos combustíveis, e a recente declaração do Ministro de Estado para a Economia, Massano que “Preço alto do barril de petróleo “já não resolve o nosso problema”.

A fome relativa.

No discurso relativa a 65º Aniversário da Fundação do MPLA, JLO disse o seguinte:

Na agricultura, ao andarmos um pouco pelo país, sentimos que há muita produção. Fala-se de fome. Os nossos adversários hoje acordam de manhã à noite a cantar uma música.

Fome, fome, fome. A fome é sempre relativa. O país já tem muita produção de bens alimentares.

Talvez, por conveniência própria, por conveniência política, nos convenha repetir incessantemente a palavra fome. Mas eu diria que o grande problema da Angola, se quisermos ser mais precisos, é o pouco poder de compra dos nossos cidadãos. Pouco poder de compra pelos altos índices de desemprego.

Fruto de um conjunto de factores, mas sobretudo fruto da Covid-19, que fez com que muitas das indústrias, muitas das empresas reduzissem o pessoal e, em alguns casos mais extremos, encerrassem mesmo as suas portas. Portanto, esses cidadãos que lamentavelmente se encontram nessa situação de desempregados ou de semi-empregados, evidentemente que não têm poder de compra de garantir acesso alimentar para as suas famílias. Mas, de resto, a produção agrícola, pecuária e piscatória no nosso país tem subido todos os dias para os olhos de quem quer ver.

JLO, discurso alusivo no Acto Político em Saudação ao VIII Congresso Ordinário e de Celebração do 65º Aniversário da Fundação do MPLA.

Sendo que o presidente JLO disse que a fome é relativa a produção agrícola, e que tendo aumentado a produção esta deve diminuir, porém os opositores que a fome é subjectiva no sentido de “imaginaria” e que o presidente estaria a dizer que os Angolanos são loucos que imaginam ter fome, mostrando assim insensibilidade e falta de respeito. Mas a desonestidade esta acompanha de um empobrecimento da língua, pois os opositores são culpados de polissemia, que é a pratica de usar vários sentidos para uma só palavra de modo a confundir seu adversário. A fome designa a condição individual de precisar alimentos, porém a palavra pode ser usada por estilo de linguagem para designar uma situação de carestia que é ausência de comida mesmo para pessoas que usem dos meios comuns e eficientes para sua obtenção, como aconteceu durante a seca no sul de Angola. Uma pessoa a comer no lixo não é prova de carestia, mesmo que aquela pessoa tenha fome, pois quem o faz normalmente tem problemas mentais ou vem de famílias que não se ajustaram a economia de mercado, ou seja pessoas que não usam meios comuns e eficientes para obtenção de alimento, até porque ambas pessoas poderiam migrar para uma zona rural e conseguir obter alimento por meio da agricultura de subsistência, porém tomaram a decisão de subsistir da restos de seus concidadãos.

O mais grave neste episódio foi que JLO disse algo de importe neste discurso, que simplesmente não foi debatido pela “classe falante”, que estava mais preocupado com a extrair capital político da “fome relativa”.

A subida do preço dos combustíveis.

A “subida do preço do combustível” foi na verdade uma retirada de um subsidio que proporcionava aos Angolanos preços baixos tendo em conta o custo de produção e o preço de mercado, sendo que este não pode perdurar quando a taxa de natalidade excede a capacidade do Estado de construir infra-estrutura e de cria rapidamente situações de escassez, enquanto que a produção petrolífera, que é a fonte de financiamento do Estado, não cresce ao mesmo ritmo.

E a conclusão a que chegámos é que precisávamos de fazer qualquer coisa rápido, uma vez que a taxa de natalidade no nosso país é muito alta. A população vem crescendo nos últimos anos a um ritmo bastante grande. Construir hoje um hospital para mil pessoas, cinco anos depois, esse hospital já não serve.

Já não serve, quero dizer, a população que vive ali nos arredores e que vai precisar dos cuidados desse hospital, já duplicou, já triplicou. Então, a corrida é entre o ritmo de construção das infraestruturas e o crescimento da nossa população. O país está a investir bastante no setor da saúde.

JLO, discurso alusivo no Acto Político em Saudação ao VIII Congresso Ordinário e de Celebração do 65º Aniversário da Fundação do MPLA.

Constatação não entrou no discurso político, a oposição apresentou a medida como puro acto de maldade e incitou a desordem que obrigou o governo a retardar a retirada total do subsidio, prolongando assim o problema.

Preço alto do barril de petróleo “já não resolve o nosso problema”

Apresentada como um confissão de desespero, citada em titulo da matéria, até no jornal de Angola, que Angola já não tem solução, até pelo Jornal de Angola, invertendo assim o sentido do que Massano disse, pois isto se insere na estratégia da Lenda Negra de Angola, que pinta o pais como o pais como um lugar apocalíptico e sem futuro, levando o povo a uma única conclusão: “A Alternância com a UNITA no Poder” . Porém a frase completa foi que “o ritmo de crescimento das populações e das necessidades está muito acima daquilo que o sector petrolífero hoje é capaz de oferecer à economia e aos cidadãos”, deste modo concordando com o diagnostico feito pelo presidente no discurso acima citado, e apresentando uma lista soluções visando a busca de outras soluções, que podem ou não serem adequadas, porém isto não interessa a mentalidade opositora, que tem apenas uma solução na cabeça: “A UNITA no Poder”.

Diversificação da economia é que você só se fala da diversificação das fontes de rendimento não das prioridades de consumo, ninguém pergunta a ser razoável que um angolano que tem uma produtividade de mil dólares por ano quer consumir 10.000 em serviço de transporte saúde e educação a custa de terceiros. Quando tiver crianças a estudar debaixo do mar fala sinal do governo mas ninguém pergunta se os pais destas crianças forem responsáveis

Resumindo.

Algumas pessoas, tirando obviamente os membros da UNITA, se indignam quando esta é criticada, dizendo que “nunca governou”, porém a natureza do Político é limitada por 3 factores: O que deves fazer, o que podes fazer e o que queres fazer. Sendo claro que o MPLA quer fazer o que se deve fazer para Angola, lidar com a questão do crescimento demográfico acelerado, porém que não consegue o fazer porque a UNITA ira se aproveitar da oportunidade para excitar revolta com o objectivo de chegar no poder, ou seja apesar de “não ser governo”, o partido Galo Negro tem a capacidade de limitar a acção do governo, o fazendo em proveito próprio e provando assim ser uma oposição desleal a Angola, presente e futura.

As Ferias do JLO nas Seicheles, parte 2: A Hipocrisia da UNITA e o Gabinete de acção psicológica.

As Ferias do JLO nas Seicheles, parte 2: A Hipocrisia da UNITA e o Gabinete de acção psicológica. Atalho para a primeira parte do texto.

A UNITA esperava uma vitoria fácil adoptando um discurso de austeridade contra os gastos excessivos da viagem do JLO para as ilhas Seicheles, porem o vídeo, publicado pelo deputado Nelito Ekuikui no X (antigo twitter) no dia 4 de Janeiro de 2024, causou uma maré de criticas contra a hipocrisia da UNITA, alegando esta que participava de um lado ao banquete da OGE, com o subsídios de instalação dos Deputados, os carros protocolares e os salários milionários, enquanto que do outro lado critica a despesa da viagem de ferias do presidente. Uns perguntaram como é que o deputado vinha falar de pobreza em um vídeo em que vestia uma camisa da Lacoste, uma marca de luxo.

A reacção da UNITA, tanto a nível de seus membros individuais, nomeadamente o Menino da Lacoste, a alcunha atribuída pelos usuários do X ao Nelito Ekuikui, e o Jonas Mulato, como a nível da instituição por meio de um comunicado publico (reproduzido na integra no fim deste texto), foi de imputar estas criticas ao “Gabinete de Acção Psicológica” (GAP) do MPLA, que estaria assim a tentar mudar o foco de debate publico e desviar os olhares da viagem do presidente.

Os argumentos da UNITA se resumem ao seguinte: 1) Alegar que as criticas tem origem no GAP, 2)defender-se da acusação de gastos sumptuosos alegando que o a)salário dos deputados não é alto, que b)os carros dos deputados são propriedade da Assembleia, sendo que não há escolha de recusar ou pedir um carro mais barato.

Vamos analisar cada argumento de forma rigorosa.

O GAP e a hipocrisia da UNITA.

É trivial alegar que a existência de um órgão de comunicação seja uma coisa sinistra, pois a própria UNITA e varias empresas tem aquilo que se convenciona chamar, de modo inócuo, “Departamento de Relações Publicas”, que gere a imagem da um entidade, tanto reagindo a noticias a noticias negativas como que colocando noticias de modo pro-activo de modo a levar a cabo a sua agenda. Alias vimos isto na forma coordenada como os membros da UNITA alinharam seus argumentos, que coincidiram depois com o comunicado publicado pelo Partido, com uma disciplina de mensagem de modo a evitar publicidade negativa. Porém não basta a coincidência de argumentos, deve ter um vinculo directo entre o Departamento de relações publicas e as pessoas que os divulgam, sendo isto fácil se tivermos a UNITA como exemplo, pois o Nelite Ekuikui e o Jonas Mulato são membros do Partido, sendo que a UNITA deveria provar que uma parte significativa dos internautas que a criticaram tem vinculo com o GAP, ou simplesmente admitir que esta a espalhar teorias da conspiração para abafar seus críticos. Como fazia o MPLA no passado, acusando seus críticos de serem fantoches e membros da UNITA.

Pelo contrario, as evidencias do carácter orgânico e espontâneo das criticas são numerosas, e alias a mesma critica surge periodicamente. O primeiro exemplo que podemos dar aconteceu na ressaca da eleição de 2022, quando cidadãos questionavam a sinceridade do partido, que proclamava a ilegitimidade do resultado das eleições ao mesmo tempo que tomava posse e usufruía assim das regalias inerentes aos cargos de deputados. O Jornalista Israel Campos colocou esta pergunta ao presidente da UNITA, Adalberto da Costa Júnior, que respondeu que “esta pergunta desviava do foco, e que era um assunto a discutir dentro da Assembleia”.

O segundo exemplo quando internautas questionaram a sinceridade do discurso do Deputado Sapiñala, baptizado com a alcunha de Hugo Boss por usuários do Facebook, sobre a pobreza em Angola quando ele ostentava um iPhone 14 Pro Max novo, que na altura não estava a venda em Angola, e que ele parecia ter viajado para comprar no exterior, por conta das etiquetas de talão de embarque colocadas no telefone, mas que na verdade era uma capa estampada com simulacro das ditas etiquetas. O terceiro exemplo de surgimento desta polémica se deu quando um ouvinte perguntou a deputada Webba se achava normal que os deputados recebessem um prémio de instalação de 20 milhões de cuanzas em um pais com tanta pobreza. Finalmente, o artigo do Jornal Expansão sobre as carros protocolares dos deputados foi publicado no dia 7 de Janeiro de 2024, escrito por Miguel Gomes, que está há anos a acompanhar este assunto, e este novo artigo foi escrito na continuidade desde trabalho, basta pesquisar “carros dos deputados” na pagina virtual dito jornal. Sendo por evidente que as criticas são orgânicas e feitas por internautas Angolanos, ao invés de serem ordenadas pelo GAP. Não é possível que o jornalista tenha composto e publicado seu artigo em menos de 24 horas reagindo o vídeo do Ekuikui.

A sinceridade da calunia da UNITA, contra internautas que lhe endereçaram criticas, foi demonstrada pelas palavras do Deputado Nelito Ekuikui na transmissão em directo do “Dose Diária”, do dia 6 de Janeiro de 2024, no X (antigo Twitter), quando atribuiu as criticas a UNITA a lavagem cerebral pelo sistema educativo do MPLA ou ação directa de do GAP do MPLA, ou seja, o preconceito do Deputado é que a UNITA esta acima de qualquer critica. As proclamações, no decurso da mesma transmissão em directo, que o Deputado faz em defesa da liberdade de expressão e da pluralidade de opinião são vazias diante da sua própria pratica, como quem recita o credo apostólico antes de cometer um pecado.

Os Deputados da UNITA são ricos ou pobres ?

O Deputado Nelito Ekuikui tentou rebater a substancia das criticas, dizendo que as regalias que os deputados usufruíam não eram elevadas, concordando com a sua colega Mihaella Webba de que os “Políticos ganham mal em Angola”, respondendo a pergunta de um ouvinte sobre o subsidio de instalação dos deputados, da ordem de 20 milhões kz, durante um programa de radio. A polémica a volta deste assunto levou a UNITA a prometer doar 50% deste prémio para a sociedade em 2022, e Dezembro de 2023 a UNITA anunciou que ja estava a cumprir a sua promessa , porem os seus planos anunciados (distribuir medicamentos, reparar carteiras em escolas, e doar cestas básicas) e teve imagens de membros do partido a distribuir cestas básicas que foram difundidas pela TPA, não custam os 900.000.000kz de representa o valor em causa. Isto até levanta uma pergunta: Como é que a UNITA pode ter uma gestão duradoura do OGE se não consegue criar uma obra duradoura com quase um bilhão de cuanzas. Lembremos que a organização da sociedade Civil Sul Africana Afriforum construiu uma universidade de raiz com um montante menor, quando o Governo do Partido ANC decidiu extinguir o ensino em Afrikans em uma universidade publica, em claro acto de discriminação étnica.

O Deputado Ekuikui tentou usar uma definição especial de rico para justificar seus de bens de luxo, e imagino que defenderia o iPhone de seu colega Sapiñala, e concordar com a Webba, dizendo que que “rico é alguém que cria riqueza” e não alguém que usa artigos de luxo, porém este não é um argumento não é sincero. O facto é ser o deputado recebe pagamentos directo e anuais de 33.8 milhões kz, constituídos por um salário base de 22.768.138,00kz , se ele não for membro de uma comissão e usufruir assim dos bónus associados, e subsídios de fim e principio de mandados, a receber a cada 4 anos, de 47.1 milhões de cuanzas. Isto equivale a um salário anual de 45 milhões.

Os carros dos deputados.

Quanto aos dois carros ao qual um deputado Angolano tem direito, a linha de defesa da UNITA, tanta nas palavras do deputado como no comunicado, é que estes são propriedade da assembleia. Apesar dos carros serem da assembleia, o seu uso pelos deputados é um beneficio directo a favor do deputado equivalente a usar um carro de aluguer pago por um terceiro (argumento de sumptuosidade) e por isto é um custo directo ao Estado (argumento de austeridade). O que se diria de um director de uma empresa privada que andasse com um carro propriedade de sua impressa, para fins particulares, mas que alegasse que isto não constituía beneficio para si porque o carro não estava em seu nome. Se um deputado tivesse alugar um SUV e uma carrinha Toyota Hilux, despenderia no mínimo 73 milhões kz, na razão de 100.000 kz por veiculo e por dia. Além de que o carro constitui um custo directo ao Estado.

Somado ao salário, o mandato de deputado equivale a um emprego com um rendimento nítido de 106 milhões de cuanzas por ano, se somar os 33.8 milhões em pagamentos e os 73 milhões que custaria a alugar os dois carros. Negar a sua condição de rico é um traço comum da sociedade Angolana, seja por medo da inveja, de pedidos de ajuda e as vezes por simples vergonha quando a pessoa não melhor de vida apenas de receber tanto. Por ponto de comparação, o salário bruto de um sondador de petróleos esta por volta de 30 milhões cuanzas por ano, ao qual deve se descontar o impostos incidentes, para trabalhar em turnos de 28 dias a bordo de uma embarcação que pode afundar a qualquer momento, o website Glassdoor tem estimativas de salários para Angola. Os salários dos deputados não só são objectivante altos, estando na mesma faixa que trabalhadores experientes da industria petrolífera, mas são altos para os deputados de ponto de vista individual, pois a concorrência pela honra de “representar o povo”.

A UNITA depois tentou se desresponsabilizar, adoptando um discurso de inevitabilidade, alegando que a atribuição dos carros está inscrita na lei e que não só a UNITA não pode mudar a lei por não ter votos, e nas palavras de Jonas Mulato a UNITA teria”sugerido carros mais baratos”, mas que os Deputados não podem recusar os carros. Porém, novamente, os argumentos não são sinceros.

Vários deputados recusaram tomar posse das viaturas atribuídas, incluindo Rafael Savimbi que negou um Lexus em 2019, Tchizé quando era do MPLA, também alegou que não aceitou um Lexus em 2017, porque tinha um de 2012 em boas condições, e a Paula Simmons também recusou o carro a que tinha direita por ser deputada do MPLA e administradora da RNA.

O que o senhor Ekuikui não disse é que os carros da Assembleia acabam muitas vezes como propriedade dos deputados, por meio de uma sistema de abate em que compram os mesmos por preços da igreja, com o Deputado da UNITA Navita Ngolo a admitir ter comprado um BMW protocolar por 3 milhões cuanzas, muito abaixo do preço de mercado.

A UNITA não acredita em liberdade de expressão.

O deputado Nelito Ekuikui disse claramente, a conversa do “Dose Diária” que a UNITA não acredita em democracia e pluralismo, pois acredita que os únicos motivos de alguém criticar seu partido é 1) ser do gabinete psicológico e 2)ser um burro vítima do sistema educativo do MPLA. Criticou os “métodos marxistas” do MPLA, porém repetiu assim o discurso do tempo do partido único quando os críticos eram “fantoches e alienados”, sendo que como é que vais ter democracia sem critica, pois liberdade de opinião não há opções políticas. Ironicamente, ao dizer que o MPLA corrompeu os dirigentes da UNITA no passado, reconhece que sei adversário pelo menos acredita na pluralidade de opiniões, mesmo que as tenta ultrapassar com o maço de dólares, isto é muito melhor que chamar seu adversário de burro e vendido.

Outro exemplo do espírito anti-democrático esteve patente quando o deputado, respondendo a uma pergunta sobre financiamento de partido por meio de doações individuais, diz que não acredita que políticos “deveriam mendigar”. O sistema de doações permite medir de modo a popularidade de um partido ou uma opção política,

tanto por número e a intensidade do apoio, afinal quem acredita vai doar de modo proporcional a sua convicção. Nos EUA um indício que permite adivinhar o vencedor de uma Eleição é justamente o número de doações individuais, pois quem doa é mais sucessível de votar do dia decisivo.

O deputado prefere financiamento público ou “meios próprios”, talvez alguns poços de petróleo ou as minas de diamante que dão saudades ! Afinal é mais fácil do que prestar contas às pessoas, que podem retirar seu financiamento se verem sua confiança traída, com quem devemos negociar para agradar e procurar um consenso, basta a auto-promoção como salvador da pátria e capturar uma fonte de renda. O Deputado não quer prestar contas ao eleitor, e aqui coincide com as palavras de seu presidente quando questionado sobre os Lexus: Isto é do foro da assembleia, aqui o eleitor não se mete.

Há uma proposta de “autonomia financeira” da assembleia em nome da “separação dos poderes”, que será perigosa para os bolsos dos cidadãos, pois a primeira coisa que os parlamentares mais autónomos de África fizeram foi aumentar seus salários: 15.000$ por mês na Nigéria, 13.000$ no Quénia, etc. Alias os próprios deputados Angolanos violaram a lei do OGE para receber os carros de apoios, Toyotas Hilux, em acto de rebeldia ao Governo.

Que a UNITA seja a futura FNLA.

Concluindo, a reacção, na forma e no seu conteúdo, diz muito sobre a UNITA, e sua capacidade de participar em um ambiente publico realmente plural, não apenas com vários partidos e “membros da sociedade civil” que são os mesmos colegas de sempre, mas em um fórum aberto com qualquer Angolano que tenha uma conta no X e no Facebook. O Partido já cumpriu seu papel histórico de quebra-gelo, obrigando o MPLA admitir o principio de pluralidade, do mesmo modo que a FNLA antes de si cumpriu o seu papel de saco de pancada do Exercito português, alias merecido por conta dos massacres que cometeu em Março de 1961, e devera em breve deixar o caminho livre para a uma real pluralidade de vozes.

Parte da sociedade deve abandonar seu preconceito positivo a favor da UNITA, dando a eles um beneficio de duvida ilimitado, talvez por conta da divida moral contraída pelos anos de luta do partido, porém se a democracia é livre escolha entre opções equivalentes, então devemos tratar a UNITA e o MPLA com o mesmo grau de cepticismo e rigor.

Referencia:

1- O Comunicado da UNITA:

O Grupo Parlamentar da UNITA (GPU) acompanha com atenção as notícias postas a circular nas redes sociais sobre o usufruto de viaturas protocolares pelos Deputados e as reacções daí resultantes, pelo que esclarece o seguinte:

  1. A lei confere aos Deputados à Assembleia Nacional o direito ao usufruto de uma viatura protocolar e outra de uso pessoal para se deslocarem e servir os cidadãos no decurso do mandato.
  2. As viaturas são propriedade da Assembleia Nacional e não são ofertas aos Deputados, como se propala. Quando o Deputado termina ou interrompe o mandato as viaturas ficam na Assembleia Nacional.
  3. As viaturas foram entregues aos Deputados na primeira semana de Dezembro de 2023, facto que foi tornado público pelo Sr. Secretário Geral da Assembleia Nacional (SGAN) em sede de uma conferência de líderes e pelo Grupo Parlamentar da UNITA, a 30 de Novembro de 2023 , em conferência de imprensa.
  4. O Grupo Parlamentar da UNITA entende que a desinformação e as especulações que agora surgem sobre o cumprimento de uma lei e uma prática vigentes desde a Primeira Legislatura visam unicamente desviar a atenção dos angolanos das questões relevantes de interesse nacional, que incluem os atentados graves à Constituição perpetrados pelo Presidente da República, a insustentabilidade da Dívida Pública e a corrupção, assim como anular as fortes críticas que o público em geral está a dirigir ao Sr. Presidente da República pelo escândalo das suas férias nas Ilhas Seychelles[sic], em desconformidade com a realidade da pobreza e de um Orçamento Geral do Estado deficitário.
  5. O Grupo Parlamentar da UNITA nada tem a ver com o processo de selecção ou compra dos bens que constituem o património da Assembleia Nacional, porque não tem qualquer responsabilidade na execução do orçamento da unidade orçamental Assembleia Nacional.
  6. Quaisquer informações sobre o processo de aquisição e distribuição das viaturas podem e devem ser solicitadas ao Conselho de Administração da Assembleia Nacional (CAAN).

2- Este texto ignora o artigo ortográfico.

Sobre a viagem de João Lourenço para as Ilhas Seicheles

Sobre a viagem de João Lourenço para as Ilhas Seicheles,

O escândalo do ano, ou pelo menos o último, até que, porque faltam algumas horas para acabar, é que o João Lourenço foi passar ferias nas Ilhas Seicheles com 30 pessoas, pelo menos é assim que as pessoas estão a publicar nas suas redes sociais. Como se fosse algum tipo de escândalo, na verdade não é, o único escândalo aqui é a quebra do protocolo de segurança, porque este escândalo surgiu de uma fuga de informação em que a lista de passageiros foi vazada nas redes sociais. E a senhora que foi presa por cometer este crime, disse que foi um erro porque ela estava a tentar mandar a lista para o comandante de bordo utilizando o WhatsApp, que é uma quebra de sigilo, uma quebra de segurança. Ela devia ter usado um e-mail corporativo em que há controle na difusão das informações. Na verdade, também não é um escândalo porque o presidente está a viajar apenas com 10 familiares, alguns de seus filhos e seus netos.

As outras vinte pessoas são, na verdade, membros da equipe de apoio ao Presidente da República, contando seis membros da tripulação do avião, babás para as crianças, assistente para a Primeira-Dama e para o Presidente, o chefe da sua equipe de segurança e o chefe da Casa Civil.

Claro que isso custa muito dinheiro, viajar com trinta pessoas, mas não é nada estranho porque é responsabilidade do Estado angolano e no interesse de todos os angolanos que o Presidente da República esteja seguro, porque toda forma de atentado contra a segurança nacional do país, seja esta uma ameaça externa, como uma guerra, ou interna, como um golpe de Estado, terá na sua lista de ações possíveis.

Sendo que, se a segurança do Presidente da República for deficiente, torna se mais fácil o pais ser vitima de uma ação hostil. E essas ações hostis colocam, por definição, a vida dos angolanos em risco. Não apenas em risco de perder a sua vida, mas em risco de perder os seus bens e de ver o quadro legal do país alterado de maneira não consensual.

É responsabilidade do Estado o proteger e dar os meios de cumprir suas funções mesmo a distancia, logo foi acompanhado por 30 funcionários públicos, incluído o seu chefe da Segurança e o Director da Casa Civil. O Ekuikui pode nos dizer se Jonas Savimbi andava sem segurança e sem radio ?

Desempenhando as funções de Presidente da República, o cidadão João Lourenço tem o direito de gozar férias. Ainda mais, ele goza férias com os seus netos, tendo em conta a sua idade e o tempo limitado que lhe resta em terra. Este é um direito que não lhe pode ser negado e, aliás, é nossa responsabilidade garantir que ele possa gozar dos mesmos, pois estes são momentos preciosos para qualquer ser humano.

A lista vazada deixa-nos margem para desconfiar de que haja um segundo avião que seguirá para as Seicheles com o presidente. Porém, esta lista do avião B ainda não foi vazada. Isto deixa-me entender que este avião tem apenas pessoal de apoio, como equipe de segurança, equipe médica e equipe administrativa adicional de segundo escalão.

Então, contrariamente à impressão que os oposicionistas querem criar de que esta seja uma viagem exorbitante no estilo de Mobutu Sese Seko, que mandava vir bolos desde a Europa para ele comemorar os seus aniversários, estamos apenas diante de uma situação em que um avô quer desfrutar momentos de paz e de lazer com seus netos, aliás, num lugar que é bonito e de uma forma que devia ser incentivada aqui no nosso continente.

Este episódio nos diz muito mais sobre a mentalidade dos oposicionistas, sendo que eles são capazes de utilizar qualquer informação, seja ela verdadeira ou não, de modo a sujar a imagem do presidente e ganhar vantagem política. Tudo pela bancada, como consta em uma letra de kuduro.

Um video publicado pelo Nelito Ekuikui no Twitter (X) demonstra a forma do argumento:

A primeira questão que se coloca é que necessidade o Presidente da República tem de levar mais de 40 pessoas numa viagem privada de férias? Que necessidade tem ele num espaço tão caro que tem de fretar aviões pagos pelo nosso dinheiro, dinheiro do Estado, numa altura em que o nosso país atravessa uma crise financeira profunda? O Sr. Presidente tem o direito de passar férias com quem ele quiser, no espaço nacional ou internacional, desde que quem assuma as despesas são as suas poupanças dos salários. O Sr. Presidente não tem o direito de gastar dinheiros do horário público para convidar toda a sua família e embarcar para as ilhas do Seychelles. Não tem este direito.

Por quê? Ele é mero gestor e não tem o direito de gastar o dinheiro da Angola como bem entender. Esse é o primeiro ponto. Segundo, que necessidade o Presidente tem de levar o seu diretor de gabinete, de levar oficiais de campo, enfim, tudo isso numa visita privada? Se é visita privada, a visita do Sr. Presidente vai passar o final do ano, dias de férias, na República da Seychelles.

Logo, não tem razões de levar um aparato tão elevado para gastar dinheiro dos cofres da Angola. Portanto, os questionamentos que eu faço é quem está a pagar essa viagem do Presidente? Terá razões o Presidente de gastar rios de dinheiros para esta viagem que diz-se privada? Terá necessidade o Presidente de levar tanta gente para esta visita privada? Quando há gente a morrer de fome em Angola? Quando há gente que morre na porta dos hospitais? Governar é sensibilidade, é preciso ter alguma sensibilidade. Eu vi ontem o cumprimento do final de anos realizado na Cidade Alta, com toda a pompa e circunstância, dança, música, bebida.

Nelito Ekuikui, no X.

A hipocrisia esta no pico pois ao mesmo tempo que faz apologia da austeridade, sua colega Mihaela Webba defende o prémio de instalação de 20 milhões para deputados por cima do salário e dois carros (protocolar e de apoio) que gozam, como justificar isto? Tirando o Nuno Dala, que vivia na casa da mãe, a maioria são adultos que já tem casa própria antes do cargo.

Falando apenas, deixa de dizer não ao MPLA, muitas pessoas, a sociedade civil inclusive, diz que num país de tanta fome, tantas situações de dificuldade para o povo em geral, a UNITA validou, vai validar os 22 milhões de quasos para o início do mandato de um deputado, quando, na verdade, devia declinar, não validar e se calhar validar outros pontos, mas que pudesse então aí ser mais valia para o povo. Então, resumindo, por que que a UNITA validou os 22 milhões de quasos para o início do mandato de um deputado? Primeiro. Sendo que estamos num país com extrema pobreza, a sociedade civil.

Estamos num país com extrema pobreza e há necessidade de alterar a mentalidade das pessoas. Primeiro, por que que Angola está em extrema pobreza? Ok, por que doutora? Por que os dirigentes ganham mal e roubam em 2 milhões de quasos?

Webba sobre os 20 milhões.

Os mesmos deputados, incluindo os da oposição, ainda querem autonomia orçamental para aumentar seus salários e regalias sem interferência do presidente da republica.

Enquanto todos os Angolanos querem ser “deputados que ganham mal”, mas nunca renunciam aos cargos por “patriotismo”, mas uma loja do Sequele trocou todos os Angolanos por Malianos pois o dono estava cansado dos esquemas das funcionárias Angolanas.

Essas pessoas, com o Ekuikui, não percebem que esta maneira de fazer política do tudo ou do nada terá como efeito, a longo prazo, tornar a democracia impossível em Angola.

Porque a definição correta da democracia é a livre escolha de seus dirigentes. Mas, na verdade, é o direito de livre escolha e opções políticas. Ora, é impossível a pessoa ter a liberdade de escolher se a pessoa é incapaz de ter consciência da diferença entre as mesmas. Ou seja, se você não é capaz de perceber a verdade, e quando suspeitas que todos os participantes são oportunistas hipócritas, e que dizem apenas o que lhes convém.

Ora, esta forma de fazer política que procura criar agitação a todo custo, a todo preço, à custa da verdade, torna a democracia impossível, porque as pessoas não vão conseguir escolher se não têm a capacidade de confiar na veracidade das escolhas disponíveis. Se acham que tudo que se diz é uma forma de sofistica de tentar criar indignação por meio da demagogia.

Algumas pessoas no X reagiram contra as muitas criticas feitas contra o Ekuikui, dizendo que eram injustas porque ele não é gestor publico.

Não é ataque, mas critica com o argumento que a UNITA está a ser hipócrita e oportunista Por não ser gestor público mesmo que devemos criticar o Nelito e a UNITA, sem a arrogância do poder podem nós ouvir mais facilmente e influenciar o MPLA por contágio, afinal são as pessoas que mais passam tempo com eles.

Os desabamentos de prédios em Luanda: o Despertar do Desejo da Kianda, entre resenha e reflexão.

O Desejo da Kianda (1995) é uma alegoria sobre o colapso da ordem social de modo geral, entrelaçando três colapsos na sua narrativa: histórico, social e pessoal.

A história se desenrola no período de transição do sistema do Partido Único para o Multipartidarismo em Angola, entre 1988 e 1994. Apesar de ter sido escrito em 1995, tem elementos quase proféticos sobre acontecimentos do presente, que são na verdade tendências já presentes e que ainda não tinham chances de florescer. Demonstrando na prática o segundo tema do livro: o problema do conhecimento na sociedade.

O primeiro colapso é de ordem histórica, pois os prédios de Luanda, os maiores e mais visíveis vestígios materiais da ordem europeia em Angola, passam a ruir sem que ninguém saiba por quê, um atrás do outro, com um número maior de desalojados. Na história, isto é explicado pelo desejo da Kianda da lagoa do Kinaxixi de escapar para o mar, cansada do túmulo feito pelos Brancos Portugueses, que entulharam sua casa e colocaram uma campa sobre ela, construída de prédios que cercam a monumental estátua da Vitória Guiando os Soldados Portugueses e Africanos da Primeira Guerra Mundial. Há nesta alegoria talvez duas mensagens: a primeira é o problema da circulação do conhecimento na sociedade angolana, pois, na história, a sociedade só se apercebe da existência do problema, chamado de “Síndrome de Luanda”, quando este foi informada pelas páginas do New York Times. Antes disto, cada luandense até poderia ter notícia do desabar do prédio, porém era apenas no momento fugaz, em um mundo que só existe no presente, rapidamente esquecido em um passado que parece quase contemporâneo de Cristo, e por isso pensar no futuro é quase impossível. Conhecer requer ter consciência do que está acontecendo e por que um fenómeno pode acontecer ao longo de um tempo dilatado, alguns meses ou mesmo anos, requer que a sociedade tenha pessoas com a paciência e a dedicação para guardar estes momentos todos. Não se trata apenas de ter “cientistas”; aliás, na trama, os cientistas angolanos são perfeitamente inúteis, apesar de terem a virtude de, pelo menos, serem mais baratos que os estrangeiros, e não conseguem sequer explicar o que está a passar. Cada um explica o que se passa usando da monomania de sua área de estudo: o biólogo acha que é uma bactéria, o político que é um sabotador da CIA, para o físico problemas de gravidade e claro que para o pastor é ausência de dízimos no cofre de sua igreja.

A única pessoa que poderia saber, o escritor, que é o observador das tendências e dos eventos, permitindo a sua intelecção além da fugacidade do momento, e com o tempo para fazê-lo porque tem a chance de ter uma sinecura, mesmo que a da história seja acidental e dependa de uma mulher feia, está preso em vídeo jogos de computador e tive que verificar a data de publicação da primeira edição porque parecia que ele descrevia os viciados de hoje em dia. A única pessoa que sabe o que está acontecendo é uma criança que ouve e tenta memorizar o canto aterrorizador da Kianda, revelando progressivamente ao longo da história, a segunda forma de escapar da fugacidade do momento, mas não tem referências para perceber seu sentido. Depois, ela cruza um velho, representante do conhecimento das gerações passadas africanas, que são necessariamente condensadas em tradições, pois o suporte físico em que são registadas, as memórias no cérebro humano, não permite o volume e a precisão do texto escrito em papel. Apesar do destino juntar estes três portadores do conhecimento, a criança portadora de intuição mágica, o velho do conhecimento condensado e o escritor que captura a essência da época, o desastre final não é evitado e a Kianda escapa.

Caso o Pepetella não tivesse optado por um tom humorístico e tivesse reduzido o peso da história, por exemplo, as pessoas que ocupam os prédios desabados são magicamente poupadas de qualquer moléstia, esta ideia daria uma excelente história de horror do estilo de Patrick Nguema Ndong, se o nosso protagonista decidisse apaziguar a Kianda com algum sacrifício humano. Isso foi uma oportunidade perdida de falar do tema do valor que se dá à vida humana em Angola, pois quando o casal pondera se deve abandonar o apartamento, sabem que não correm risco de vida, pois nenhum dos desabamentos causou vítimas, as pessoas flutuam magicamente para o chão. Teria sido muito mais poderoso se houvesse um risco real de morte e se este fosse suficiente para justificar abandonar seus novos bens de consumo. Além disso, uma mulher escapou milagrosamente do desabamento que aconteceu na rua Comandante Valodia em 2023, carregando um bebê ao colo, sem se saber o que fazia dentro do prédio sendo que este tinha sido evacuado pelos bombeiros. Aliás, a vida humana é de um preço tão baixo em Angola, que a única preocupação com vítimas mortais era dos activistas que estavam sedentos por alguma “mentira do governo” que pudessem usar para fins políticos.

Muitas vezes se ouve no comentário político angolano que o governo não deveria demolir construções anárquicas porque “viram as pessoas a construir”, como se o governo ou a sociedade conhecesse algo como uma pessoa sabe algo, estendendo-se às vezes a outras actividades ilegais. Porém, existem em Angola pessoas que fazem o trabalho de memória que permite conhecer o que se passa?

Sem essa apreensão do conhecimento, além do momento, e sua transmissão de uma geração a outra, a sociedade esquece as soluções para os seus problemas, o que leva a uma progressiva deterioração de seu meio social e material que depois desmorona misteriosamente. No caso angolano, a transmissão foi interrompida pela independência e impedida pela propaganda anti-portuguesa, muitas vezes abreviada em anti-branca, adoptada por todos os movimentos de libertação nacional, até mesmo aquele que mais tinha absorvido a cultura portuguesa, o MPLA, talvez por um reflexo histérico pois temiam nunca serem vistos como legítimos pelos outros angolanos, e aliás ainda são chamados de “assimilados” e “novos colonos” pelos seus adversários da UNITA e da Sociedade Civil, esta última vestígio da extrema-esquerda do MPLA ressentida pelo 27 de Maio. Na trama, essa antipatia primária contra o que é português aflora nos comentários racistas deste ou daquele personagem, e na repetição da mesma propaganda anticolonial.

Devido a essa interrupção na transmissão de conhecimento, evidenciada em uma crónica de Pepetela sobre jardineiros que destruíram as árvores de sua rua, embora tenham recebido como legado uma cidade moderna e bem construída, os angolanos são incapazes de mantê-la, pois os problemas inerentes à gestão de uma cidade nunca foram enfrentados antes na cultura africana. Afinal, decidimos que a presença de quem sabia era intolerável, afinal, são 500 anos de escravidão, e por isso fizemos o que já sabíamos fazer: construir aldeias, só que entre prédios em vez de imbondeiros. A solução adoptada pelo Dubai, de usar a receita petrolífera para construir e manter cidades modernas do zero com mão de obra estrangeira.

Iria apenas esconder o problema e criar outros absurdos, pois ninguém pode saber algo por procuração. Pepetela anuncia profeticamente os desabamentos em série dos prédios de Luanda, que se intensificam agora em 2023, tanto pela falta de manutenção, quanto pelo abuso, como por exemplo armazenar e usar geradores eléctricos dentro do prédio, causando vibrações que destroem e alteram as paredes dos apartamentos. Os prédios de apartamentos de Luanda são uma espécie de favela vertical, com até dois andares construídos sobre blocos existentes construídos pelos portugueses antes de 1974.

Um dos personagens explica a ausência de manutenção devido ao pouco valor dos prédios, pois os moradores os receberam de graça e o Estado não os construiu, assim como pelo abuso dos moradores do prédio, não mencionado explicitamente, mas implícito nas loucas obras feitas pela mulher do protagonista, que incluiu modificações de paredes e construção de vivendas no terraço dos prédios. A manifestação mais completa do problema é o desaparecimento do Mercado do Kinaxixi, não por desabamento, mas pelo martelo demolidor nas mãos da filha do Presidente de Angola. Plantada na mente a ideia do anti-lusitanismo e elevado o colonialismo a condição de mal absoluto, seguiu-se logicamente que não fazia sentido “tolerar” seus símbolos em público, sendo que a estátua da Liberdade do Largo dos Kinaxixi, ladeada dos Soldados Portugueses e Angolanos que lutavam para defender Angola durante a Primeira Guerra Mundial, foi retirada e substituída por um tanque soviético que representava a vitória do MPLA na “Segunda Guerra de Libertação Nacional”, quando venceu as batalhas do Kifandongo e Gabela. Com o fim do Partido Único, este evento “saiu da memória”, e foi substituída por uma Estátua de Njinga Mbande, afinal o pais precisava de novos Heróis Africanamente Africanos.

Porém a filha do Presidente do Antigo Partido Único, vivo quando se deram os quando da Segunda Guerra de Libertação Nacional, decidiu demolir o Largo e o Mercado do Kinaxixi em 2008, erguendo eu seu lugar um Shopping, o monumento ao novo Símbolo Nacional. Sendo que não há transmissão cultural nem na primeira familia do pais, que esperança que existe nas que estejam mais baixas. Talvez não haja lugar para largos no vernacular urbano de Angola, pois estes largos são muitas vezes ocupados ou fechados ao publico por meio de cercas, como acontece com o largo da Administração Municipal de Viana. A carcaça do tanque soviético e a estátua de Njinga Mbanda foram postas no Museu das Forças Armadas, dentro da Fortaleza de São Miguel, aonde estão escondidas as estátuas Portuguesas que adornavam Luanda antes de 1974.

Um artista capturou, com sombras, a transição do largo nos últimos 100 anos.

Não se trata aqui de uma “crítica”, no sentido angolano da coisa, que é dizer coisas negativas para ganhar vantagens políticas, mas apenas constatar que não existe permanência na memória angolana, e temer que, em um futuro próximo, se passarmos para outra era, os símbolos da Terceira República também sejam apagados, em nome de um desejo de manifestar o poder do presente, livre de quaisquer amarras e obrigações com o passado. Luanda é, na verdade, um campo de ruínas, porém, ao invés de estar coberta de lianas como Angkor Vat, está coberta pelo betão das construções de seus novos moradores, e em mais algumas décadas, desaparecerá.

Ao primeiro colapso histórico, adiciona-se um colapso social, que é poucas vezes discutido na sociedade angolana. Pois se a sociedade angolana do Partido Único não era perfeita, pelo menos funcionava dentro da área reduzida sob o controle real do governo e porque era aplicado a uma população menor e minoritária a nível do país. No tempo do Partido Único, tínhamos transporte público gratuito para crianças, me disse uma vez um amigo. Agora o governo não consegue fazer esta coisa tão simples, mas agora a escala da sociedade angolana sob controle do governo é maior, em várias ordens de magnitude. Muito se fala da guerra de 1992, mas pouco se fala de suas consequências por uma desconfiança que seja apenas desculpas para encobrir a incompetência e roubos do partido no poder, és do MPLA, vai-te perguntar um angolano com olhos brilhando de histeria. Porém, Pepetela capta os efeitos desta decisão de modo claro, mesmo que deixe passar a oportunidade de as mostrar de forma mais viva, pois esta representa a queda de uma ordem social e moral. Os códigos do passado já não são válidos, novos devem ser adotados às pressas e ao mesmo tempo que as pessoas fazem tudo pela sobrevivência porque temem que a UNITA irá tomar as cidades.

Em Angola, evita-se discutir o papel da UNITA na destruição da cultura e do tecido social, em parte porque reflexivamente as pessoas desconfiam que tal conversa seja apenas propaganda do MPLA, que quer se desculpar de tudo sob a desculpa da guerra, não que este reflexo seja de todo irracional e o MPLA seja culpado de abuso de propaganda. Porém, ao criar a situação de guerra em 1992, que não era inevitável e foi conscientemente escolhida por Savimbi, introduziu na cultura nacional vários aspectos negativos: o culto dos chefes máquinas, dólares em abundância, os generais às pencas, ostentação e talvez até mesmo o bordel, na sua tentativa de provar o seu poder dentro da capital.

Esta situação foi possível pela decisão de um homem, Jonas Malheiro Savimbi, porém é uma extrema falta de respeito passá-lo por qualquer processo de crítica, mesmo que seja branda e não angolana, pois o país precisa de um herói. Não sei como teria sido Angola sem a guerra de 1992, porém é evidente que foi o momento chave para liquidar e cristalizar os diferentes componentes da cultura nacional.

Ao colapso histórico e social, junta-se um terceiro, o pessoal, no caso do casal Evangelista, composto pela Deputada Carmen e pelo Pacheco Evangelista. No final, a confiança que tinham um no outro é quebrada e o que parecia ser apenas coincidências se revela em traição de confiança e mentiras.

Infelizmente, Pepetela tem um pouco do mau gosto e infantilismo que iria se revelar de forma explícita na série “Jaime Bunda”, mesmo que seja talvez um sacrifício feito no altar da burrice nacional com a esperança de que seus livros fossem lidos, pois ele quer realmente nos dizer algo importante. Ele vive seu destino de escritor, seu dever de memória da sociedade. Aliás, o livro tem vários momentos proféticos, por exemplo, sugere o crescimento do movimento LGBT em Angola, com uma menção humorística a um casal constituído de um ministro e de um cantor. Antecipa o fenómeno Angofoot, em que queremos ganhar milhões sem nada fazer, e ainda o fenómeno do activismo cívico histérico: não quer saber o que causa seu sofrimento, quer apenas o fim do sofrimento, mesmo que seja pela destruição do pouco de ordem social que resta. No livro, foi por meio de um protesto nudista que liquida a moral sexual em nome da mudança política. A Doutoramania e os “No que tange” também fazem uma aparição no livro, quando dois doutores em Direito, mais preocupados com suas palavras do que com a realidade, continuaram seu debate em meio ao desabar de um prédio…

Os cientistas inúteis, apresentados humoristicamente na narrativa de Pepetela, manifestam-se na realidade, e vou arriscar uma aposta de que aquilo que foi pomposamente chamado de “obra”, um livro coordenado pela arquitecta Isabel Martins, os arquitectos Roberto Machado, Maria João Grilo e Isabel da Silya Martins, com a colaboração de mais de 200 finalistas do curso de Arquitectura do departamento da Arquitectura da Universidade Agostinho Neto, lançado em 2010 com o título de “Arquitectura de Luanda”, que trata da arquitectura entre os séculos XVII e XIX com destaque para a arquitectura militar, religiosa, residencial e pública, não tem a mesma qualidade do que o estudo feito por pesquisadores espanhóis da Universidade Alcalá, sobre o mesmo tema “La Modernidad Ignorada: Arquitectura Moderna En Luanda”.

Não porque os espanhóis sejam mais inteligentes ou porque tenham mais dinheiro, o único ingrediente para melhorar a educação segundo os angolanos, mas porque ninguém estuda seriamente aquilo que despreza, e muitas vezes ignoramos aquilo que desprezamos, especialmente quando aquilo nos importa apenas como estopim de ódio que sirva de contraste para a nossa virtude. Lembram do Velho e da Menina que ouviu a sereia? A sua história não despertou a curiosidade do nosso protagonista, que estava com pressa de voltar aos seus jogos de computador, ou seja, sem um espírito curioso, a própria actividade intelectual é apenas um ritual, e o nosso herói era tido como erudito pela comunidade quando, na verdade, estava apenas a conquistar Babilónia em algum predecessor do “Age of Empires”.

Talvez esse desprezo pelo passado seja uma contaminação da cultura portuguesa, não no sentido de desculpa de mau pagador que se exonera de suas responsabilidades usando o colonialismo, elevado ao estatuto de mal absoluto e bicho-papão. Uma vez, o Ministro da Justiça disse que a corrupção era causada pelo colonialismo e o chefe da Defesa Civil disse que o desabamento da sede da DNIC em 2008 era culpa do colono por ter “construído sobre um lençol de água”. Refiro-me ao fato de que a própria cultura portuguesa dos anos que antecederam a independência de Angola, na qual foram educadas as elites angolanas, rejeitava a sua própria história em nome do progresso e do poder da geração presente de moldar o futuro sem embaraço.

Esta ideia da tirania do presente, foi apresentada, no caso brasileiro, no livro de Olavo de Carvalho sobre o “O Futuro do Pensamento Brasileiro”.

Isso se manifestou na arquitectura, por exemplo, com o Bairro do Prenda. Chamava-se a Unidade de Vizinhança nº 1 da Cooperativa Precol, agora Bairro Prenda, concebido por Fernão Simões de Carvalho e Luiz Taquelim da Cruz (1963-1965). Organizado de acordo com o sistema das “7V”, proposto por Le Corbusier, o bairro conjuga diferentes tipologias destinadas a diferentes grupos sociais e étnicos. Porém, ninguém achou necessário consultar os membros destes distintos grupos para saber se estavam interessados em coexistir no mesmo espaço e muito menos por quanto tempo. Os habitantes portugueses puseram-se em fuga logo que as Forças Armadas de Portugal retiraram-se de Angola. E os angolanos que triunfalmente ocuparam os prédios, aqueles que ascenderam à classe média abandonaram seus apartamentos, apesar de estarem localizados no centro de Luanda, não suportando a insegurança dos musseques circundantes.

Afinal, Le Corbusier não imaginava tamanha quantidade de pobres. Alguns fugiram para as periferias da cidade, na cidade dos ricos chamada de “Luanda-Sul”, da história de Pepetela. E outros seguiram a mesma rota que os portugueses, comprando casas e apartamentos em Lisboa. Enquanto isto, os prédios do Prenda estão a dar sinais iminentes de desabamento, em Abril de 2023.

Seria fácil se fosse apenas um problema de “elite”. O povo miúdo não quer saber de histórias complexas de zonas verdes ou reservas. Terreno vago é para ser construído, e se o azar lhe der dinheiro, o terraço do prédio também é terreno.

A maioria dos blocos de apartamentos coloniais modernos de Luanda foram construídos entre 1950 e 1970. A rápida degradação sob proprietários angolanos e administração pública é replicada nas Centralidades construídas pela China: canalizações entupidas por serem usadas como depósito de lixo e usadas para escoar águas com alimentos, torneiras abertas que causam inundações e infiltrações, obras não autorizadas que destroem paredes estruturais e causam vibrações. Às vezes, o problema do Dubai se manifesta quando os chineses usam um sistema de esgotos que é funcional em seu país, mas que rapidamente se fissura e é incapaz de escoar o resultado das chuvas de Luanda.

Não significa que o Desejo da Kianda, este desejo de voltar à essência Africana de Angola, seja de todo uma má coisa, mas que desejamos viver com as benesses e comodidades da existência em uma civilização técnica de estilo ocidental, mas sem querer a praticar de modo ativo, nos limitamos a comprar chave na mão o que precisamos, e por isto cada desabamento e retorno ao passado, que não é de 1482, mas sim de 1890, é vivido de modo dolorido.

Do mesmo jeito que a aldeia cresce à volta da cacimba até ela secar, ou mesmo que seja perigoso estar tão próximo por causa dos mosquitos, sem que nunca alguém pense em construir um canal, a proximidade à cidade é explorada a todo custo, mesmo que isso comprometa a sustentabilidade dos prédios. Estruturas adicionais são construídas no terraço dos prédios: vivendas inteiras, tanques de armazenamento de água (muitas toneladas) ou antenas de comunicação.

Sendo que os prédios do tempo colonial vão brevemente desaparecer, talvez até 2040, quanto tempo vão durar as centralidades construídas pela China? Até 2060, talvez?

Tivemos a sorte de Portugal construir os primeiros e dos chineses os segundos, haverá uma terceira vez?

Luanda não nos urbanizou, nós a transformamos em uma sanzala.

O desabamento do prédio é um sintoma da alta preferência da cultura de Angola: preferimos consumir tudo que for possível no presente, sem nos preocupar com o futuro, seja na forma de poupança ou ao gastar dinheiro para preservar um bem para o futuro. Vivemos como se só existisse o presente, como se o futuro não fosse o nosso presente. Talvez isso seja representado na história de Pepetela pela ausência de um filho no casal Evangelista, pois esta é a representação material mais palpável do futuro na vida das pessoas.

Podem ler o Desejo da Kianda gratuitamente no Internet Archive, e compre um livro de Pepetela, de preferencia novo, se puder, pois assim o autor é recompensado. https://archive.org/details/odesejodekiandar0000pepe/mode/1up?view=theater…

A politização de tudo e as chuvas de Luanda

Claro que existem soluções políticas para os problemas da sociedade, de modo geral, e da chuva de modo particular, porém a politização do discurso público traz dois defeitos graves. Primeiro a politização do discurso público quer obrigar o público a considerar apenas a solução política e muitas vezes apenas uma solução proposta por um grupo em particular, não porque seja a única forma de proceder, mas porque os primeiros beneficiários da mudança política são os agentes políticos. Este interesse pessoal directo pelo resultado do combate político leva o agente político a colocar o critério de eficiência política acima de tudo, mesmo da resolução dos problemas que ele está a denunciar. Por isto que se contradiz facilmente e apoia causas que são materialmente opostas e exclusivas, desde que permitam criar propaganda negativa contra os seus inimigos. Ele pratica o verdadeiro sentido da palavra “populismo”, que é uma forma de sedução, em que se diz as pessoas as coisas que querem ouvir com o objetivo de ganhar o seu apoio para nossa ação política, usando se de demagogia e mentira ao gosto do freguês. O caso das intensas chuvas de Luanda deu um exemplo claro, as mesmas pessoas que criticam o governo pelas consequências das chuvas o criticavam pela demolição de casas construídas de modo ilegal no Zango. Ora as duas coisas são ligadas, pois as construções anárquicas é uma das causas das enchentes em Luanda, pois fecharam valas de drenagem, ocuparam bacias de retenção de água, e impedem a infiltração da água nos solos. Só que o Activista não pode “atacar” o povo, ele quer seduzir o povo, e por isto ele vai se focar suas críticas ao governo apenas, quando está claro que está cultura de construção anárquica é uma das fontes dos problemas de Luanda. Mas os Activistas fogem do assunto dizendo que “o governo permitiu e deixou as pessoas construírem”, porém duvido que justificassem outros crimes, como por exemplo o roubo de seu carro, pelo facto de que este foi “permitido pela falta de acção do Estado”.

Uma tentativa de diagnóstico do problema pelo Ministro do Interior, Ernesto Laborinho, é apresentada como “um insulto, fala pejorativa e falta de sensibilidade”, enquanto é apenas uma observação racional da realidade: As construções Anárquicas feitas pelos Angolanos é uma das causas das inundações.

Porém a lógica do activista é de usar a crítica como instrumento de desmoralização de seu inimigo, e por isto nunca pode reconhecer lhe um feito positivo, irá sempre procurar minimizar e desmerecer com farpas sobre paz com fome, fizeram isto por interesse, é mesmo obrigação do governo, mentalidade de pobre upgraded e outras mais. E depois de desmoralizar o inimigo a sua segunda prioridade é de seduzir o publico, o activista esta para o povo como o namorado para a adolescente que quer desflorar: Por mais que ela seja uma imbecil, e por cima feia, que esta a por a sua vida em risca por causa de um inútil, este inútil vai dizer que ela é inteligente e mais lindas das mulheres, e vai dizer muito mais até conseguir leva-la a cama. O Pai, em contraste, não tendo necessidade de seduzir a sua filha e preocupado com seu futuro, pode lhe falar de seus defeitos mesmo que isto crie antipatia da filha. O Activista esta a se comportar como um namorado e o Ministro do Interior como um pai.

não que isto seja um comportamento exclusivo da oposição, pois os Bajuladores eram uma versão do mesmo fenómeno porem com a classe dirigente como publico, com a esperança de um Lexus, com o Campeão Actual dos Bajuladores sendo o Bambila, que tentou balujar o Presidente mesmo deste ter rejeitado esta pratica ao publico. O Bajulador vai dizer tudo o que o Governante quer ouvir, na esperança de uma recompensa no presente, do mesmo jeito que o Activista vai dizer tudo o que o povo quer ouvir na esperança de uma recompensa no futuro.

O Activista diz”Até no Talatona encheu, assim mesmo vais apoiar este governo?”, porem este argumento é fraco.

Até no “Talatona encheu” não é um argumento forte contra a descrição feita pelo Ministro do Interior, que as pessoas constroem em todos os lugares, pois quando chove apenas no Talatona não há enchente, do mesmo cheito que não há enchente no Coelho (na Estalagem de Viana) quando chove, mas quando chove em toda a Cidade, e as aguas que vem outros pontos da Cidade e convergem nestes lugares, porque não tem chance de se infiltrar nos solos ou de escoar porque as pessoas constroem em todos os lugares e cimentam todos os Lugares.

Um exemplo corriqueiro foi quando Lukamba Gato inventando uma etimologia Ovimbundu da palavra Kwanza para colar o rótulo de “Assimilado” ao MPLA. O mesmo activista que perguntava por que os deputados ganham mais que os professores agora ganha salário de deputado e para professores ficou apenas uma promessa de que ele vai lutar “pela educação”. A proposta de outras soluções é inconveniente, afinal eles estão a fazer política para ter benefícios nesta vida, mesmo que digam que lutam “pelo povo e país”, o que pode feito esperando se efeitos apenas em décadas, e eles chegam até a ter reações violentas contra quem se recuse a aderir ao seu movimento, como aconteceu com os músicos Gerrilson e Kid MC. Resumindo, a politização do discurso pelos activistas é negativa para a sociedade, pois é movida por um interesse pessoal que prioriza soluções que beneficiam directamente os Activistas e que evite falar de problemas reais quando estes não levam ao mesmo resultado ou incorre o risco de antagonizar o público. Sim, o activista pode dizer que tudo na vida é politizado, porque somos animais sociais e citar algum sociólogo esquerdista ocidental. Porém eu desafio que um deles possa gerir a rua da Dira de maneira politizada: grupos de activistas decidem quem pode namorar com quem ou que música vai ser tocada, enquanto que os clientes pagam pelas bebidas e os quartos de hospedaria por meio de uma taxa fixa cobrada mensalmente. Eu aposto que o lugar vai se transformar rapidamente em um inferno. A política é apenas um instrumento, uma forma de gerir alguns problemas da sociedade humana que não podem ser facilmente geridos pelo livre mercado e normas culturais (igreja ou família).

Não é o único meio disponível, e aliás quem tem problemas reais, e um desejo sincero de os resolver, não espera por uma solução política e ter o poder para resolver o problema, e a prova disto são activistas afrikaneers da África do sul e seu movimento cívico Afriforum:

https://im1776.com/2023/04/19/the-reintegration-of-south-african-order/embed/#?secret=ZZiRKG7xgy#?secret=SvoDwFGIWb

Se vamos gerir o urbanismo de Luanda politicamente, então todos têm o direito de viver na Talatona desde que tenham este desejo, e o desejo não precisa de ser justificado, porém como adjudicar dois desejos opostos ? Pela política vai ser por meio de um conflito até que um se canse. Pelo livre mercado gerir o urbanismo de Luanda seria mais justo e sensato, pois tendo o Talatona um custo e valor mais alto, basta que a pessoa que a pessoa crie as condições económicas para lá viver, porém nada o impede de usar o mesmo dinheiro para ter algo maior em outro ponto da cidade ou simplesmente de trabalhar menos e de fazer outra coisa com sua vida. Sim, alguns podem me chamar de insensível por dizer que os pobres não têm o direito de viver no Talatona, ou até mesmo de viver em Luanda, porém os activistas que vendem o a utopia do fim da pobreza cometem blasfémia pois Jesus disse que “haverá sempre pobres neste mundo”. Porém é um risco admissível, para quem tem como ofício a encenação de heroísmo lucrativo, a troco do dinheiro do silêncio ou de cargos públicos, pecar por blasfémia.

A culpa é do MPLA porque governou o Pais desde de 1975, como se antes os Angolanos fossem fundamentalmente diferentes e que o Povo Angolano foi inventado pelo MPLA, sim este pode ter falhado em não ter moldado outra cultura, porém a incapacidade dos Oposicionistas de criticar qualquer aspecto da cultura Angolana, especialmente quando não permite atacar o MPLA, prova que vão ser incapazes de fazer melhor, pois ninguém muda aquilo que acha normal. Se a construção de musseques, a gravidez precoce, ou a criminalidade são defendidas como reação normais a pobreza, então nada será feito contra estas praticas. Não basta criticar o Governo, tem de se criticar o Povo, pois o Governo é apenas uma expressão do Povo, e a única diferença, na pratica, entre um governo da UNITA e do MPLA vai ser nos nomes das pessoas que vão viver uma vida de Luxo.

A mesma cultura já existia antes da independência, e só não tinha expressão maior porque as Administração Portuguesa impedia o afluxo as cidades O MPLA não inventou o Povo Angolano, e os alternadores são incapazes de criticar o que esta mal no Povo.

As greves constantes é a politica do Ensino Superior da UNITA.

As greves constantes é a politica do Ensino Superior da UNITA.

As greves constantes no Ensino Superior são parte da politica do Ensino Superior da UNITA, o que parece ser paradoxal porque esta partido não esta no governo, porem governar é gerir parte da sociedade por meio de seu poder, que é a capacidade de ser obedecido pelas pessoal, sendo que a UNITA decidiu que os alunos do Ensino Superior Publico não devem assistir aulas. Porém as noticias sobre as manifestações realizados no dia 17 contra o Governo do MPLA e em prol do recomeço das aulas, pelo Movimento dos Estudantes Angolanos (MEA), e com resultou com a detenção do seu presidente pela ilegalidade da mesma nos termos das leis, e o protesto da Associação dos Estudantes da Faculdade de Medicina da Universidade Agostinho Neto, não mencionam este facto importante. Isto deixa a impressão nos leitores que os protestos foram organizados porque as condições do Ensino Superior são realmente péssimas ou inaceitáveis.

A realização de greves constantes foi decidida pela UNITA e anunciada aos seus parceiros no Discurso da Terceira Revolução Angolana (TRA) proferido por Kamalata Numa em Novembro de 2020, Sendo que o Sindicato dos Professores Angolanos (SINPROF), o MEA e outros associações de Estudantes estavam na plateia, não manifestaram oposição e estão a agir em conformidade com o plano. O Plano do Numa é de realizar greves permanentes que possam gerar um estado de crise permanente e um fluxo de noticias negativas contra o governo, por meio de caderno reivindicativos irrealistas ou vagos, e dizendo aos grevistas que devem negociar de má fé para evitar que se chegue a um acordo. Pois o objetivo não é resolver os problemas que são alegados com este governo do MPLA, mas de “ajudar a UNITA a chegar ao Poder” por meio de publicidade negativa, porque a UNITA vai resolver todos os vossos problemas”. Seria o equivalente aos trabalhadores da AngoReal entrarem em greve para levar a empresa a falência porque a MACON vai comprar o negocio e resolver todos os seus problemas. Alguns dos pontos do caderno reivindicativo do SINPROF são absurdos, por exemplo o fim de uso das batas, e a “não à mercantilização do ensino, pois em Angola há mais colégios privados que escolas públicas”, especialmente esta ultima pois com o fim do sistema comunista e adopção do sistema de mercado ensino privado é legitimo e não é da conta do SINPROF, ao menos que falemos das bancarias. As sucessivas greves também não fazem sentido quando 7 dos 10 dos pontos do caderno foram atendidas pelas Ministerio da Educação (MED), normalmente a resolução de pontos de cadernos revendicativos devem levar ao fim da greve e do conflito laboral, porem como o SINPROF foi instruido a negociar com má fé, pois “todos os problemas vão ser resolvidos com o Governo da UNITA”, mantém um radicalismo e ritmo de greves como houvesse falta de negociações.

Sabendo disto fica mais fácil perceber o porque de repetidas greves em instituições publicas, por exemplo o Sindicato dos Enfermeiros esteve presente na reunião da Terceira Revolução Angolana e esta a se comportar como o SINPROF, porem existe também um efeito de contagio em que Sindicatos que não estavam presentes, pelo menos de modo publico e não há provas que aderiram ao plano de modo privado, como o Sindicatos do oficiais de justiça, e para impedir um contagio na Policia o Governo aumentou de modo preventivo o salario dos effectivos da Policia em 2021. Alias sabendo se que os Sindicatos estão agindo de boa, cumprindo uma agenda politica, entende-se que o governo tome uma postura mais agressiva com o corte de salario para Enfermeiros Grevistas e a substituição de professores grevistas por outros funcionários do MED no controle das provas, como auxiliares de Limpeza, e ameaça passar a descontar salários por ausências não justificativas, o que foi apontado como “uma falta de respeito ao sector” pelo MEA, que nunca esta longe nesta historia. Porém sem saber-se este dado ficamos apenas com a impressão que o “governo esta a ser maldoso contra funcionários públicos que pedem melhorias para o bem de todos”.

Sim, a UNITA ainda não esta “no Poder”, ou seja no Governo, porém influenciou um aumento generalizado dos salários da função publica em uma conjuntura económica mundial marcada pelo aumento de custos e queda de produção, e tenho a certeza que o FMI provavelmente advertiu contra estas medidas porém o Governo do MPLA deve ter justificado as mesmas como politicamente necessárias, e aceite outras medidas de rigor orçamental para compensar, pense em algo como o fim do subsidio dos combustíveis. Mesmo que esta ultima medida seja objetivamente salutar na minha opinião. Sendo que é provavel que o MPLA esteja consciente da manobra, e o Celso Malavoloneke escreveu sobre o aumento da intolerância politica na oposição, que é um dos sintomas da TRA , porém obvio que vai descontado como falando apenas para “defender o seu partido”, e ninguém esta disposto a ouvir o que é contrario a sua narrativa favorita, algo paradoxal para quem diz lutar pela Democracia, pois esta sem livre debate é igual a casamento sem Amor.

Porém o aumento de custos com pessoal, tanto por causa do aumento de salários individuais como pelo aumento do numero de funcionários públicos para “mostrar trabalho”, tem como consequência direta a redução de dinheiro disponivel para investir em infraestruturas necessárias. Isto não esta no programa da UNITA, porém uma consequência directa de uma decisão que tomou, porém esta decisão não é conhecida do publico e ninguém pede contas a UNITA pelas consequências de sua decisão, pois vigora em Angola a ideia que um partido só tem acção politica quando esta “no Poder” e controla o governo, o que é conveniente pois impede qualquer critica contra UNITA e apresenta a sua ascensão ao Governo como a única solução possível.

Sendo que chegamos a uma situação totalmente teatral em que o MEA protesta contra o Governo sabendo que a Greve foi ordenada pela UNITA, e isto expõem o caracter fraudulento desta onda de greves: Pois são realizadas com um objetivo, quando na verdade tem outro objetivo escondido que não é apresentado ao publico supostamente beneficiada.

Existe um maniqueismo ingenuo na politica Angolana, que tendo definido o MPLA como o Mal Absoluto, decide automaticamente que tudo que lhe seja oposto como um Bem Absuloto e por isto issento de criticas, sendo que as pessoas não querem aceitar os factos como estão de maneira clara, e vão alegar que as greves são espontaneas e que a UNITA não é culpada, porém os factos são claros: A UNITA decidiu que o tempo e a formação dos alunos do Ensino Superior Publico é menos valioso que seu objetivo de chegar ao Poder por meio de uma serie de greves que crie má publicidade para o Governo do MPLA, porque esta confiante que vai conseguir resolver todos os problemas quando chegar no Poder. Porém isto inclui os problemas dos alunos do ensino Superior que criou ? Os alunos não foram consultados e não o direito de escolher se querem estudar ou participar na greve.

O Poder é a capacidade de mandar as pessoas fazer algo, seja por persuasão ou por imposição, e governar é usar o seu poder para administrar parte da sociedade. Sendo que a UNITA usou o seu poder, claro que limitado e menor relativamente ao poder do MPLA, para sacrificar a formação superior de Angolanos possivelmente pobres, porque se fossem de classe media talvez estariam de certeza em uma universidade privada, porque isto lhes permite gerar publicidade negativa contra o MPLA. Isto é a politica de Edução Superior da UNITA neste momento, mesmo que ainda não esteja no Governo, o que chamamos corriqueiramente de Poder.

Este dado essencial da situação actual não é discutido e alias negado por parte dos interessados, não por que é mentira mas porque revelar seu plano é inconveniente. Vou deixar uma pergunta para o leitor: Se fora do Governo a UNITA acha normal usar a mentira e ter agendas inconfessas para atingir seus objetivo, tendo apenas um poder informal e parcial, irá se comportar de maneira diferente dentro do Governo ? Dizer que o MPLA faz o mesmo não é uma resposta legitima, cada parte da nossa sociedade tem de corrigidas para o bem de todos, fazer o mal sob desculpa que o outro o pratica apenas garante que o mal vai vencer. A Democracia não se resume simplesmente a escolher seu governante por meio de eleições, pois o direito de escolher não tem sentido se não existe um respeito pela verdade.

Pode assistir o Discurso sobre a Terceira Revolução Angola neste atalho, e tirar as suas conclusões:

Angola 2022 Electon: The Third Angolan Revolution, UNITA Plan

The 2022 election is wrongfully painted as a democratic contest between the Rulling MPLA party and the Democratic Oposition led by UNITA, it is in fact a life and death struggle between the forces that led the process of nation building of the Angolan State and those was that Total Power to recreate the State, since they see the first as not being suficiently African, in culture and etnicity, “Nacionalists of Colonial Sucessions” instead of “Panafrican Nacionalists” as General Numa, UNITA chief Strategist for what he dubs “The Third Angolan Revolution” (TRA), which is the party plan to gain power in 2022, outline in a 2019 speech to a gathering of all oposition forces, activists and NGO, that where invited to be partners and where finally joined openly by dissidents of the MPLA Justino de Andrade and Marcolino Moco, and maybe covertly by the sons of the ex-president JES.

Numa speech on the TRA

Numa advocate a “cultural revolution” that would finally force everybody to think like an African, like it was done in China at the cost of millions of deaths that was worth it since they are finaly Chinese. UNITA second source of legitimacy is that its traditional Ovimbundu ethnic group is the biggest in the country, representing 35% of the population while the MPLA Kimbundu are 25%, however this doesn’t take into account the Urban Angolans that have a nacional identity. This is why this is a existencial threat to the MPLA, which cannot just quietly go into the night.

The plan sought to destabilize the government by a series of sequencial strikes, violent street protests, justified by people like Moco because “the government policy is itself violence already”, and fomenting or justifying vandalism, to culminate in a kenya style post-electoral crisis, that would allow UNITA to gains power, it has been busy in the last month in casting doubts on the electoral process and is trying to incite riots around polling centers, maybe in a bid to swamp the security forces.

UNITA is not interested in a Democratic Election, it has historically dismissed smaller Parties as a MPLA ploy, seeking instead a direct match up, it has not publicized the results of its paralel counting for the last electing since maybe confirmed its defeat against the MPLA, 51 against 35% according to the counting done the Jikky Project done by Luaty Beirão on a much smaller sample.

Results of the 2016 election accoding to the JIKKU project

Finally because it refuse the legitimacy of the state and seek to create a new one from scratch. They don’t seek a Democratic transition as it was done in South Africa, they want a total Change as it was done in Zaire with the fall of Mobutu. Since “all problems will be solved by UNITA”, any price paid to elevate it in power is legitimate.

What will happen ?
The old age of most people involved on both sides, most have between 60 and 70 years, means that this is their last rodeo and chance to be actors, so they are showing a radical posture that could raise the stakes, but at the same time the next generation of leaders, Adão de Almeida and Massamba Savimbi, might not be keen in final show-done yet, except maybe Luaty Beirão who believes that the people is at the cusp of revolt.
The occurrence of riots is in the interest of both the MPLA and UNITA, for the first would like images to discredit the second, while the second hope that a general revolt require just an initial spark.

There are 3 scenarios:
1- Brazen MPLA victory with super-majority and obvious grass rigging of the poll, to provoque UNITA to carry its plan out so that it can be destroyed in a crackdown, with the possibility that a weak UNITA show of force would make it lose face.
2- Minor MPLA victory with a simple majority, closer to the true results of the polls, with growth of minors parties, that would divide the moderates and radicals of the FPU and expose UNITA to the role of the anti-democratic force in case it still carry out its plans of revolt.
3- A Coup of a MPLA faction in support of UNITA rioters, out to claim victory at the polls, be it real or imagined, the most dangerous scenario as it would signal the start of the disintegration of the Angolan State.

This analysis is not a defense of the MPLA, but of the Angolan Nacional project, for having witnessed the fall of the Zairian State under the escuse of removing Mobutu Sesseko and creating a democracy, I fear that the same is being done in Angola, with the same result of regression to tribal fighting and extermination of the last signs of civilization.

A 7 sete eixos da UNITA para 2022, ou como falar sem dizer.

Estão em curso dois grandes problemas no mundo que afetam directamente Angola, e ausentes dos sete eixos do Partido que quer ser governo.

Os 7 sete eixos fundamentais do projecto de Governo da UNITA, para as eleições de 2022, apresentado pelo Adalberto da Costa Junior (ACJ) no Facebook, parece ser um exercício de montagem de colar de bunginganga, em que cada peça é adicionada ao fio pelo seu valor estilístico individual e não pela harmonia do conjunto, ao invés da harmonia lógica de frases que descrevem problemas reias e as soluções correspondente, estamos diante de um amontoado de palavras agradáveis aos ouvidos do eleitor Angolano.

Governo Participativo e Inclusivo, Nova Cultura de Governação

Programa Integrado de Emergência Nacional

Combate à Fome e à Pobreza (CFP)

Igualdade de Oportunidades

Reestruturação da Economia

Pluralismo na Comunicação Social

Valorização da Família

Adalberto da Costa Junio, 7 sete eixos fundamentais da UNITA, no Facebook.

O Economista José Macuva tem um excelente texto criticando cada um dos pontos, se for do seu interesse, sendo que aqui gostaria de por ênfase na ausência dos dois grandes problemas da actualidade no programa do Partido que quer ser governo em Angola: A Crise Mundial de Abastecimento de Alimentos e o Golpe de Estado Pandemia da OMS.

1- A Crise de Abastecimento de Comida causada pela Guerra na Ucrânia, contra a qual o Governo do MPLA tentou se preparar com a Reserva Estrategica Alimentar, sob a chuva de critica de uma UNITA , que não apresenta um plano alternativo, e que pelo contrario divulga uma retórica de apologia ao roubo de alimentos que pode dar cobertura aos motins da fome que podem acontecer se a crise piorar.

2- O Golpe de Estado Pandemia da OMS, uma tomada de controle sobre os governos nacionais sob desculpas do combate a Pandemia do COVID-19 pelo Império Americano, que tem como luva a OMS, e que será eternizada pelo “Tratado Global de Prevenção das Pandemias” que permitirá a decretar Estados Epidemiológicos sem consultar o Governo Nacional, e deste modo tomando o controle de seu sistema de saúde sob ameaça de embargos e sanções.

Parlamento Europeu Discute o Tratado Global de Prevenção das Pandemias.

A UNITA nada tem a dizer sobre o assunto e passou a Pandemia a insistir que o Governo não estava fazer o suficiente para combater a covid e que “morrem muita gente por aí nos bairros” segundo o ACJ, enquanto que o MPLA conseguiu criar uma política de “Hipocrisia Soberana”: 1) Anunciar que vai aplicar todas as medidas absurdas da OMS, 2) fingir incompetência para aplicar o mínimo de medidas necessárias para fazer propaganda televisiva, 3) manter o sistema de saúde sob controle do Governo Central. Isto permitiu que a maioria das pessoas vivessem a “pandemia” de maneira normal.

Uma UNITA desejosa de “mostrar trabalho” iria se comportar como a oposição da “Democratic Aliance” da África do Sul, que aplica de modo histérico as mesmas medidas da OMS no Governo Provincial da Cidade do Cabo, que o governo central do ANC, sob a esperança de impressionar as “instâncias internacionais” na esperança de receber algum apoio, mesmo as ditas medidas prejudicam seus eleitores e povo.

Esta cegueira da UNITA com o que passa a sua volta se manifesta no cavalo de batalha que escolheu, a fraude eleitoral, quando a Embaixadora Americana no Brasil ordena que não seja questionado a segurança das maquinas eleitorais, sendo que duvido que queiram ouvir falar do assunto da boca de um opositor de um pais do terceiro mundo, ao menos que queiram uma mudança de governo.

Sacrificar a Verdade em nome do Poder deveria ser um preço demasiado alto a pagar.