O que Portugal fez por Angola

O que Portugal fez por Angola.

Foi triste ouvir o presidente JLO a repetir retórica de estilo Afrocrata, dizendo que “[nos do MPLA] fizemos mais em 50 que o Colono fez durante 500 anos, eles deixaram brinquedos em comparação com o que fizemos”, sendo necessário repor-se os factos.

Primeiro, os Portugueses não “colonizaram Angola durante 500 anos”, tendo controlo de todo o território de 1914 a 1974, ou seja um período de 60 anos, dentro do qual foi quase tudo o que define a Angola moderna. Convido as pessoas a visitarem a página Luanda do antigamente para saberem se foram construídos brinquedos. A estrada da serra da Leba, as grandes cidades modernas em todo território, o caminho de ferro de Benfica, e muito mais.

Segundo, antes de 1888 a presença Portuguesa se limitava a Luanda e Benguela, com parte das províncias do mesmo nome, que serviram de plataformas de comércio, exportação e importação, onde convergiam caravanas vindas do território que viria a ser Angola. A população Africana e Portuguesa era pequena, e não precisava se construir muito, porém ainda assim construir maravilhas como a Fortaleza de São Miguel e a Igreja Maria Pia.

Terceiro, além do legado material, Portugal nos deixou um legado cultural e político valioso, quando construiu um território coerente, unido por língua e cultura comum.

O legado cultural é expresso na língua, que permite a comunicação em todo o território sem criar sentimentos de sujeição, que poderiam ocorrer se Ambundus fossem obrigados a falar Ovimbundu, como acontece no Congo Democrático, nosso vizinho.

O legado político é expresso no direito de todo Angolano de transitar e se albergar em todo o território sem temer as arbitrariedade de potentados locais. Pois antigamente as pessoas perdiam seus direitos políticos e culturais quando fora de sua zona étnica, tendo de se assimilar ou usurpar o poder local. Até o Rei Congo deveria fazer rituais anuais para pedir autorização para residir em algumas das localidades que conquistou, enquanto que caravanas de mercadorias eram sujeitas a toda a sorte de chantagens ao longo de seu percurso, como acontece no Congo Democrático, nosso vizinho.

A retórica Afrocrata é  nociva porque não tem como objetivo descrever a realidade, mas sim criar e intensificar sentimentos de ódios de modo a permitir a ascensão dos Afrocrata a um poder, seja este cultural ou político, sendo que muitas vezes acaba defendendo teses contraditórias, resultando em uma diminuição da inteligência total da sociedade. A divulgação desta ideologia pelo nosso presidente é mais uma derrota da inteligência nacional, não sendo uma coincidência que a UNITA e a Isabel dos Santos, recentemente, tenham discursos do mesmo teor, pois virou senso comum entre os angolanos.

Claro que a independência política de Angola é valiosa e sua conquista foi necessária, porém o preço pago por todos foi demasiado alto, e incapacidade de fazer melhor nos obrigada a negar a existência do passado, por pura vergonha. O perigo de não se aceitar está verdade, que é muito difícil construir, é se passarmos pelo mesmo caminho por conta da arrogância revolucionária que destrói tudo porque acha que é fácil construir algo melhor. Já imagino um presidente da UNITA dizendo, em 2050, que seu fez mais por Angola em 4 anos do que o MPLA em 70 anos …

Na qualidade de líder político, não deveria dizer às pessoas apenas o que elas querem ouvir, como neste caso, mas também tem de dizer a verdade de modo a servir de exemplo aos que poderiam se acovardar, como aconteceu quando disse, de maneira acertada que “pobreza não é desculpa para criminalidade”. Pela positiva, movidos pelo seu extremismo, talvez os anti-JLO se sintam obrigados a ter uma visão positiva do período colonial só para não concordar com o JLO.

Os riquezas de Luanda em uma foto.

Arquitectura de Luanda ao longo dos tempos 1880, 1930, 1960 e 2010, financiado respectivamente pela borracha, sisal, café, diamantes e finalmente pelo petróleo.

A propósito, qual seria o edifício mais antigo de Luanda ?

A torre do observatorio João Capelo que antes foi torre sineira da primeira Sé de Luanda

A origem emocional da ideia Afrocrata.

Os argumentos dos Afrocratas não são de origem intelectual, nem mesmo de “independência intelectual”, são de origem emocional de um reflexo adolescente de rebelião contra a mundo e afirmação de sua autoestima, que os leva a lutar contra qualquer sugestão de inferioridade: A pobreza actual de África não importa porque os Africanos do Egipto Antigo inventaram tudo, Angola não foi descoberta porque já existiam povos em Angola, e coisas do género.

Se já notaram esta luta pela sua afirmação é igual ao adolescente, que relativiza todos os critérios do mundo adulto ao qual é sujeito: melhor notas na escola não garante competência no trabalho, as tradições são caducas, estamos em 2022, e até se sintetizou em um supostos “supremacismo dos mais velhos” chamado de “adultismo”.

É uma busca da relevância pelo o que se é na sua essência, e não pelo o que se faz agora no presente como acontece com os adultos, é alguém que quer usar o cheque em branco para pagar todas as suas contas.

O adulto sabe que a vida é feita do bem e do mal, que é normal que a historia de uma pessoa, e ainda mais de um povo, seja feita de vitorias e derrotas, que isto é normal e que nada pode ser feito no passado para mudar isto e que é descabido se sentir vergonha no presente por algo que aconteceu e que não pode “desacontecer” e que não tem relevância para o futuro.

Uma vez destas o Lula da Silva, ainda meramente líder de partido de oposição, o equivalente moderno de um Santo Profeta da antiguidade , chamou então Presidente da republica do Brasil Fernando Henrique Cardoso (FHC) de “Filho da Puta” durante um comício transmitido em directo na televisão. Existiam tres caminhos para o FHC: primeiro fingir superioridade e ignorar a afronta, segundo reagir a afronta como um adolescente e deixar seus actos serem comandados por outro homem por causa de algo que não pode ser mudado, entrando em troca de insultos com o Lula, e a terceira que foi escolhida que consistiu a dizer ao adolescente Lula da Silva que a alegada condição de Puta de sua mãe não poderia afectar o amor filial que tinha por ela, é algo do passado que já aconteceu e não pode ser mudado.

Nos éramos e nos seremos são coisas de criança, que tal seres algo agora.

A Polémica sobre o inicio da Guerra Colonial: 4 de Fevereiro vs 15 de Marco ?

A Polémica sobre o inicio da Guerra Colonial: 4 de Fevereiro vs 15 de Março ?

Um dos sintomas do baixo nível do discurso político de Angola, esta nesta luta para saber “quem iniciou a guerra contra o colono”, pois se assume que quem iniciou a luta teria legitimidade para governar.

Como se fosse um cheque eterno que da direitos no presente, por conta de feitos do passado ou qualidades imutáveis como a pertença tribal, independentemente das suas capacidades atuais. O que importa é de saber quem tem atualmente a capacidade e legitimidade para Governar Angola.

Insistir no eufemismo de “Luta Armada” para tentar escapar do facto que a guerra iniciou no 15 de Março, com chegada do Contingente Expedicionário Português para por fim aos massacres e a campanha de terror da UPA no Norte, como se pode ler no livro “Angola Heroica, 120 dias com os nossos Soldados [Portugueses] no Congo”, de Artur Maciel, apenas para evitar dar protagonismo a FNLA, mostra apenas que temos uma cultura política primitiva que recusa a nuance, quer adaptar os factos ao nossos interesses. Trata-se de uma tendência a historio-Génesis, em que só nos sentimos bem se a historia eterna da humanidade culmina em nos e nossa causa.

Deveríamos mudar , e retirar o elemento emotivo e de direito por conta de qualidades imutáveis, qualidades de culturas do ócio que desejam ter sem trabalhar, e adoptar elemento de meritocracia reconhecendo o mérito do vitorioso, mesmo que não gostamos dele, apenas por ser verdade.

A verdade deve ser o critério, ao invés da utilidade dos eventos para nossa causa política. Os Oposicionistas tem a mesma tendência, embriagados pela certeza que lutam por uma “Causa Nobre”, criam uma contra narrativa a seu favor, perpetuando, em novas roupas, o erro.

Infelizmente temos o preconceito que apenas o partido no Poder tem a pratica de manipular os eventos para criar propaganda positiva, como na Alegoria da Caverna, porem os Oposicionistas também fazem contra manipulação, e ao invés de sairmos ao sol para ver a realidade, saímos de um teatro de sombras para outro, com mitologias sobre a inocência Virginal do Nito Alves, que foi um massacre unilateral e negando o Golpe de Estado Nitista ou fingindo, como advertiu o Justino de Andrade em uma palestra sobre o 27 de maio, que se interrompeu uma revolução democrática, impossível no contexto histórico de 1977. Os gritos de denuncia a fraude eleitoral quando o MPLA tem mais que 1% dos votos, ou a Angelização do Jonas Savimbi são outros exemplos desta pratica perniciosa.
Sejamos adultos, o mundo será sempre composto do Bem e do Mal, quem se apresenta como o eterno representante imaculado do Bom deveria ser sempre alvo de suspeita.

Tendo escrito isto tudo, ainda assim aprecio que o MPLA tenha escolhido um acto militar, tomar de assalto uma cadeia para libertar presos, para marcar o inicio da guerra colonial do que o massacre de civis indefesos, brancos e negros, um acto de cobardia vergonhoso aos olhos do mundo e da historia. A nossa anseio de criticar deve nos cegar aos bons feitos de nossas vitimas?

Resenha de livro: Les guerres d’Afrique: Des origines à nos jours, Bernard Lugan.

Resenha de livro: Les guerres d’Afrique: Des origines à nos jours, Bernard Lugan.

Apesar de apresentar o seu livro como uma historia das guerras de Africa, o autor Bernard Lugan infelizmente limitou se as guerras que foram mais ligadas ou discutidas na comunidade académica de historiadores na França, ou que fazem parte de sua área de interesse pessoal, como os Boers da Africa do Sul e a Alemanha em Africa, sendo que o livro teria sido mais completo caso ele fosse o coordenador de uma equipe composta de especialistas das zonas e períodos históricos nos quais Lugan não tem interesse ou conhecimento. Apesar deste defeito o livro consegue realizar o objetivo do autor de dar uma visão da guerra em Africa na “Historia longa”, de modo que o reconhecimento das constantes geográficas e das tendências humanas, étnicas e raciais, permitam perceber melhor as guerras do presente e as do futuro, de uma maneira muito mais clara que as chaves mentais usuais de (“deficit democrático”, corrupção, fronteiras coloniais ou pobreza) da consenso em voga no Ocidente e em Africa.

Algumas das tendências longas descritas por Lugan são: (1) A Conquista Racial do Sahara e do Sahel pelos Berberes, a Conquista Arabo-Muçulmana da Africa Subsaariana que foi interrompida pela colonização, e a fluidez das populações em Africa que ate a conferencia de Berlin vivia uma era de grandes migrações similares ao que se viveu na Europa durante as invasões barbaras e ainda não tinha atingindo o grau de saturação demográfica que fixa os povos e raças como aconteceu na India ou China.

As melhores partes do livro tratam das guerras da ex-fábrica Francesa, antes, durante e depois da colonização, alem de ter partes interessantes sobre os Boers da Africa do Sul e as colonias da Alemanha, sendo as partes menos boas as que tratam das colonias Portuguesas, especialmente nas guerras pré-coloniais.

Les guerres d'Afrique: Des origines à nos jours (Documents) (French Edition) by [Bernard Lugan]

Resenha de Livro: The Poverty of Slavery, how unfree Labor Pollutes the Economy. Robert E. Wright.

Resenha de Livro: The Poverty of Slavery, how unfree Labor Pollutes the Economy. Robert E. Wright.

A princípio pensava que o livro seria um estudo sistemático das economias que fizeram uso de trabalho Escrava, porem depois de ler me deparei diante de dois livros mesclados em um só: o primeiro trata da escravatura e seus problemas ao longo da história, e o segundo é um panfleto contra a Escravatura Moderna e a luta pela sua abolição.

Esta dualidade surge do facto do autor ser ao mesmo tempo um historiador e um ativista na luta contra a escravidão moderna, sendo que os dois assuntos parecem ser de interesse genuíno do autor, especialmente se nota que cada pagina tem ate meia dúzia de paginas com referencias e bibliografias, o que demonstra que o autor leu muito do que se escreveu sobre a escravatura em todos os continentes e em todas as épocas, desde a antiguidade ate a era moderna, o que torna esta livro um bom ponto de partida para qualquer pessoa que queira estudar a escravatura ao longo da historia humana.

O ponto fraco dista bicefalia do livro é a superficialidade e brevidade que o autor as vezes impõe a si mesmo, talvez para não tornar o livro demasiado longo, sendo que as vezes senti que poderiam ter sido dois livros separados, um sobre a escravatura na historia e outro sobre a escravatura contemporânea, por exemplo as Crianças Americanas desaparecidas ou os Restavec Haitianos mereciam um capitulo no mínimo, porem a escolha do autor em juntar os dois temas serve para mostrar a continuidade histórica da escravatura ao longo do tempo e talvez mobilizar a antipatia cultural contra a escravatura histórica, especialmente forte no Estados Unidos de América, na luta contra a escravatura moderna, que é maioritariamente sexual.

O livro usa como estrutura argumentativa a engenho mental de Bastiat dos benefícios visíveis contra os custos invisíveis da escravatura, e os aplica a todos os envolvidos no assunto: os escravos, a sociedade em que estão os escravos, a sociedade de onde vieram os escravos, e finalmente os que se são chamados convencionalmente confusamente de “escravizadores” quando na verdade são dois grupos distintos: Os fornecedores (caçadores e traficantes de escravos) e os Donos de Escravos.

O argumento do autor sobre os problemas causados pela escravatura para a sociedade, que ele vê como universais apesar de ter usado o Sul dos EUA antes da guerra civil como o seu modelo, pode se resumir ao facto que os Donos de escravos ficam com os lucros do trabalho escravo para si ao mesmo tempo que entregam os custos do trabalho escravo ao Estado, ou seja aos seus concidadãos que não são possuidores de escravos, pois os donos de escravos individualmente não tem a capacidade de evitar as fugas e rebeliões escravas que inviabilizam o uso do trabalho servil em larga escala. Sendo assim uma forma de indústria subsidiada, que explora ao mesmo tempo os escravos e os homens livres pobres. Estes custos reduzem o potencial demográfico dos estados esclavagistas comparado com estados similares não esclavagistas, com o agravante que parte de sua população esta condenada a ser parte da milícia necessária para se manter os escravos “em seu lugar”, não podendo participar de atividades económicas que poderiam ser mais produtivas e tem de ser substituída por mercenários em tempo de guerra, com todos os problemas caudados por estes. Foi por isto que Roma prevaleceu contra seus adversários Helénicos e Púnicos, e os Estados Unidos prevaleceram contra os Estados Confederados, pois suas economias livres sustentavam uma população de cidadãos livres dispostos a lutar pela pátria que permitia substituir as tremendas baixas sofridas nas derrota enquanto que Pirro, Hannibal e Robert E. Lee tinham um numero limitado de recrutas e parte estava indisponível por ser necessária para impedir uma rebelião de escravos em sua retaguarda.

Esta ineficiência da escravatura não foi suficiente para erradicar a escravatura, porque cada grande civilização esclavagista vivia no “seu mundo”, isolada das outras civilizações, ligar apenas por algum comercio de longa distancia que não poderia ser facilmente usada para fins militares, e por isto bastava ser apenas ser menos ineficiente das que estavam perto si ou ter uma fonte de escravos quase inesgotável, como foi a Africa para o Mundo Árabe muçulmano, a Gália para Roma ou o Leste Europeu para o Imperio Otomano. Na idade das Grandes Navegações a Vela Europeia quebra o isolamento e traz todas a civilizações em uma competição que vê o triunfo da Economia Livre Europeia, com estabelecimento do Imperio Britânico sobre o Mundo e a derrota dos CSA pelos USA na América, que ainda obriga todos os outros estados a banir a escravatura.

Uma segunda desvantagem da Economia Esclavagista foi que impede a formação de capital útil, na forma de infraestruturas de transporte e produção (industrial, agrícola, mineira, etc.) que permite a cada nova geração de produzir mais que a anterior com menos esforço, em um ciclo virtuoso que permite a estas ser mais produtivas por pessoa que uma economia pré-moderna, mesmo que foi necessário melhoramento da tecnologia agrícola para  quebrar o ciclo malthusiano por meio da redução da mão de obra agrícola necessária para sustentar a população, quando no passado a maioria da população era composta de agricultores de subsistência.

Esta segunda desvantagem foi aludida pelo autor, porem fracamente explicado, quando bastaria ele comparar um investidor Americano que investiu em uma fábrica de pregos em Nova York com um outro investidor que investiu em uma plantação de Algodão no Mississípi, e que os dois tenham um rendimento igual de 10% para simplificar.

Uma fazenda com escravos será sempre apenas uma fazenda com escravos: homens armados mantem outros homens em presos e os deixam sair para trabalhos de campo várias vezes por semana, os que morriam eram substituídos por novos escravos comprados a traficantes que os traziam de outro continente. Para aumentar o volume produzido por uma fazenda aumentava se o número de escravos.

Uma fábrica de pregos por outro lado pode crescer lateralmente, ou seja, produzir cada vez mais pregos como uma fazenda que produz mais aumentando seu número de escravos, ou verticalmente se transformando por exemplo em uma fábrica de facas, aumentando assim o grau de complexidade dos produtos que consegue produzir.

O crescimento de uma fazenda com escravos não cria externalidade positiva para a sociedade a volta, os novos escravos construiriam seus aposentos e plantavam sua própria comida, sendo que pelo contrario criava uma externalidade negativa porque crescimento da população servil incrementa o aumenta o risco de rebelião, tanto por causa do seu numero total como da sua fração mais perigosa desta, os recém chegados de idade militar que ainda não foram “quebrados” pelo trabalho do campo, enquanto que o crescimento de uma fabrica aumenta a demanda por ferramentas, o que estimula o crescimento das fabricas que fabricam estas ferramentas, e transformara alguns desempregados em consumidores que comprarão bens e serviços diversos que fomenta outros industrias. São assim várias externalidades criadas por uma fábrica ao crescer.

Um fazendeiro falido apenas sua terra pois seus escravos teriam provavelmente morrido de fome ou teriam escapados, enquanto que o dono da Fabrica terá ainda suas ferramentas e varias trabalhadores com experiencia que pode ser usada para fabricar outras coisas.

Uma vez declarada a Guerra entre os USA e os CSA, o nosso primeiro investidor conseguiu converter sua fábrica de pregos em fábrica de espingardas, enquanto o nosso segundo investidor não pode facilmente converter escravos em fabricadores de espingardas e apenas poderiam ser convertidos em soldados leal apenas com promessas de liberdade, tornando se assim inúteis como escravos e ser substituídos por novos escravos que custam dinheiro, como os famosos Lanceiros Negros das Guerras das Farroupilhas ou os Remadores Libertos Trirremes Atenienses na Batalha de Arginusae…

A importância desta discussão sobre o entrave ao desenvolvimento moderno surge do facto que muitos propõe que pessoas que nunca possuíram escravos, e que na sua maioria não são descendentes de donos de escravos, paguem indemnizações a pessoas que não foram escravos, por conta da cor da pele dos primeiros e segundos, sob alegacão que toda a riqueza do mundo Occidental e sua ascensão por meio da revolução Industrial foi apenas possível graças ao trabalho escravo nas plantações das Américas quando esta claro e ate discutido mais extensivamente por outros autores, que os países ocidentais que mais usaram do artificio servil menos se desenvolveram, com os EUA e os CSA sendo a prova cabal pois se reduziu ao máximo as variáveis: os povos eram iguais e as condições climáticas não muito diferente dos dois lados da linha que separa Yankees e Confederados, porem em menos de 70 anos os primeiros tornaram mais ricos e poderosos que os segundos.

Outra consequência absurda da ideia das indemnizações para os descendentes, para o autor, seria que os descendentes dos outros intervenientes no trafico, fornecedores e traficantes Africanos, como nossa Dona Ana Joaquina ou Nzinga Mbande, que hoje vivem em países pobres e miseráveis como Angola, deveriam pagar indemnizações a Kobe Bryant ou Will Smith …

Um assunto não abordado pelo autor foi o facto que algumas grandes civilizações esclavagistas do passado criaram grandes obras e monumentos que poderiam provar de algum modo que a escravatura permite algum desenvolvimento, porem isto seria uma ilusão de ponto de pois um pessoa na época moderna que olha para as ruinas do Egipto Antigo vê em um segundo coisas que forma construídas em 7000 anos, sendo que para as pessoas que viveram o período o “desenvolvimento” foi na verdade lente provavelmente não vivido por uma geração como se vive hoje pelo homem moderno, enquanto que para as elites egípcias a ineficiência, expressa em termo de vida curta e sofrida para os trabalhadores, não era importante porque a fonte de trabalhadores, livres ou escravos, era quase inesgotável, pois pode se climatizar o inferno se as verbas estiverem disponíveis.

O Trafico de Escravos e seus sócios Africanos – Bernard Lugan

O Trafico de Escravos e seus sócios Africanos – Bernard Lugan

Em 14 de abril de 2021, o Ministério Público de Paris respondeu à denúncia do deputado Obono contra Valeurs Actuelles, decidindo que o semanário seria julgado em 23 de junho pelo tribunal criminal por “injúria pública racista”.

Figura de proa do movimento “descolonial”, o deputado Obono compartilha muitas das lutas dos esquerdistas islâmicos. Membro do Partido Esquerdista “La France Insoumise”, partido que em junho de 2020, perante o Parlamento Europeu, apresentou uma alteração com o objetivo de reconhecer como “crime contra a humanidade” apenas o Trafico de Escravos cometido pelos Europeus, e apenas este e  não todos os outros traficos, incluindo O tráfico de escravos árabe-muçulmano e o tráfico de escravos interafricanos, como era previsto no texto inicial, e ainda o deputado Obono não acha chocante a fórmula “foda-se a França”.

Resposta “do pastor à pastora”, em agosto de 2020, o semanário Valeurs Actuelles publicou um artigo humorístico ilustrado com um cartoon retratando o deputado Obono acorrentado e um prisioneiro de caçadores de escravos negros.

O jornal pretendia, assim, destacar a grande realidade da história do tráfico de escravos, que é que este teria sido impossível sem seus associados, fornecedores-associados africanos de quem os negociantes de escravos europeus compravam os cativos. Sem esses parceiros locais, esse comércio realmente teria sido, e por definição, impossível, uma vez que os escravos eram capturados, transportados, arrebanhados e vendidos por caçadores de escravos negros. E como os compradores brancos esperavam na costa ou a bordo de seus navios que os cativos lhes fossem entregues, em última instância cabia aos negociantes de escravos aceitar ou recusar-se a vender seus “irmãos” negros. Uma realidade essencial que desenvolvo extensivamente no meu livro “A escravidão, a história no lugar” ao mostrar que parte da África enriqueceu com a venda da outra …

Pode ler um resumo do texto aqui: https://fl24.net/2020/08/30/affaire-obono-que-contient-vraiment-le-roman-de-lete-de-valeurs-actuelles/

Uma evidência histórica particularmente destacada por Mathieu Kérékou, o ex-presidente do Benin, que não hesitou em escrever que “os africanos desempenharam um papel vergonhoso durante o Trafico de Escravos”, bem como pelos bispos africanos em termos muito fortes:

“Portanto, comecemos por admitir nossa cota de responsabilidade na compra e venda do negro … Nossos pais fizeram parte da história da vergonha que foi a do tráfico de escravos e da escravidão negra. Eles eram vendedores no desprezível tráfico de escravos do Atlântico e do Transsaariano “(Declaração dos bispos africanos reunidos em Gorée em outubro de 2003).

Tudo poderia ter parado por aí com o artigo de Valeurs Actuelles escrito na grande linhagem cultural francesa do pastiche. Porém, através da caricatura que a representa, o destaque das responsabilidades históricas de uma parte dos africanos na venda dos seus “irmãos” negros a escravos europeus, exultou o deputado Obono. Ela, portanto, decidiu levar o caso a tribunal e, em 14 de abril de 2021, o Ministério Público de Paris deu seguimento à sua denúncia, decidindo que Valeurs Actuelles seria julgado em 23 de junho pelo tribunal criminal por “insulto público de natureza racista “

Resposta da Revista: https://www.valeursactuelles.com/politique/affaire-obono-valeurs-actuelles-repond-aux-accusations-de-racisme-de-son-roman-de-lete/

Por outro lado, ainda aguardamos uma reação do mesmo Ministério Público de Paris após as declarações claramente racistas e apelos ao genocídio contra brancos feitos pela Sra. Hafsa Askar, vice-presidente do sindicato estudantil UNEF que se define como “uma anti -branco extremista “:

“Eu não me importo com Notre-Dame de Paris, porque eu não me importo com a história da França … Wallah … “on sem balek”  (tradução: nós pouco se fodemos), objetivamente, é o seu delírio dos pequenos brancos ”(15 de abril de 2019).

“Devemos fumigar a morte todos (sic) os brancos (resic)” esta sub raça (25 de maio de 2014).

Durante este julgamento, cujo pano de fundo será “padrões duplos, medidas duplas”, os advogados de Valeurs Actuelles vão se divertir argumentando que, orgulhosamente reivindicando, e com razão, sua dupla ascendência materna Punu e paterna Fang (Ballart.fr, 3 de julho de 2017), dois grandes grupos étnicos do Gabão, o deputado Obono dificilmente pode se passar por um descendente das vítimas. Na verdade, a expansão perfeitamente documentada desses dois grandes povos conquistadores e colonizadores ocorreu na forma de uma pinça na qual as etnias indígenas eram esmagadas antes de serem subjugadas e parcialmente vendidas a comerciantes de escravos europeus.

Como a galanteria impõe começar com a etnia de Madame Obono, os advogados de Valeurs Actuelles não deixarão de se concentrar primeiro nos Punu. Descritos como “belicosos” pelo acadêmico gabonês Cerena Tomba Diogo, os Punu referem-se a si mesmos sob o nome de “batu diba di badi” ou “povo da guerra”, sendo o seu nome ele mesmo, e sempre segundo Cerena Tomba, uma ” Distorção do termo puni que significa Matar”. A partir da década de 1550, vindos da actual RDC, os Punu devastaram e arruinaram o brilhante reino do Congo, que quase não foi salvo da destruição total graças à intervenção portuguesa. Em 1574, os Punu cruzou o rio Congo ir e conquistar parte do atual Congo-Brazzaville e Gabão, reduzindo os pigmeus à escravidão no processo (Rey, 1969). Em seguida, lançaram incessantes incursões entre os povos vizinhos, tornando-se os principais fornecedores de escravos para parte do litoral do atual Gabão (Picard-Tortorici, 1993).

Quanto aos Fang, os Pahouin da literatura colonial, eles são a etnia paterna do Deputado Obono. Este outro grande povo, também com um rico passado expansionista, vive hoje montado em Camarões, Guiné Equatorial e Gabão, regiões conquistadas após um vasto e rápido movimento de colonização. Seguindo as histórias de Paul du Chaillu, explorador naturalista que viajou pelo país nos anos 1855-1865, eles foram associados a uma reputação de crueldade associada ao canibalismo. Esta última menção, que esteve na origem de intermináveis ​​debates e controvérsias, foi desenterrada de um passado esquecido por Frédéric Lewino em um artigo no semanário Le Point de 4 de agosto de 2018, intitulado “Le tour du monde des canibals: the Fang of África Central “.

Se os Fang eram canibais ou não, não importa. Há de fato, e em nenhum caso o essencial, porque nossos ancestrais Cro-Magnon fizeram suas delícias de nossos outros ancestrais Neandertais … Por outro lado, está claramente estabelecido que a conquista Fang de Moyen-Ogooué ocorreu em particular em às custas de Seke, Mpongwe, Kele, etc.

Em suas alegações, os advogados de Valeurs Actuelles obviamente não deixarão de citar o famoso etnólogo Georges Balandier, para quem os Fang constituíram um “grupo móvel, organizado para a conquista (…) cujo impulso contínuo foi mantido pelo terror dentro das populações reprimidas” . Um movimento de conquista que, mais uma vez, com todo o respeito aos “descoloniais” e ao deputado Obono, foi bloqueado pela colonização tida como libertadora e emancipadora pelas populações que dela sofreram….

Conclusão: O erro dos Valeurs Actuelles foi representar o deputado Obono como escrava, disfarçado de infeliz vítima, enquanto sua ascendência étnica a colocaria, ao contrário, entre os povos conquistadores, não entre os conquistados. Um “caso” que não o é e uma queixa que, em outros tempos, teria sido qualificada de “burro de chifre”, mas que ilustra perfeitamente as contradições do movimento “descolonial”. Este último afirma querer destruir a sociedade francesa, mas não hesita em apelar à sua justiça quando se encontra em dificuldades intelectuais … Ver sobre este assunto o meu livro “Respondendo aos descoloniais, aos islâmicos-esquerdistas e aos os terroristas do arrependimento ”.


Referências bibliográficas
– Balandier, G., (1949) “The Fan (Fang), conquistadores em disponibilidade” Tropiques, n ° 3/6, dezembro de 1949, pp 23-26.
– Du Chaillu, P., (1863) Travels and Adventures in Equatorial Africa. Paris.
– Hombert, J-M e Perrois, L., (2007) “Heart of Africa, gorillas, canibals and Pygmies in Gabon by Paul du Chaillu”. Paris, edições do CNRS.
– Picard-Tortorici, N e François, M., (1993) “O tráfico de escravos no Gabão do século XVII ao XIX. Teste de quantificação para o século XVIII ”. CEPED Studies (Centro Francês para a População e o Desenvolvimento), n ° 6, Paris, junho de 1993.
– Rey, P-P., (1969) “Articulação de modos de dependência e modos de reprodução em duas sociedades de linhagem (Punu e Kunyi do Congo-Brazzaville). Conectados
– Tomba Diogo, CA, (2015) “Estudo de um género de literatura oral: o lema” kûmbu “entre os Punu do Gabão”. Sorbonne Paris University, online.


Mais informações no blog de Bernard Lugan.

https://bernardlugan.blogspot.com/2021/04/daniele-obono-contre-valeurs-actuelles.html

Podcast Club do Livro 02: Florbela Catarina Malaquias, autora de Heroínas da Dignidade

Uma live com a autora de um livro interessante sobre realidade da vida na guerrilha, suas lutas pela sobrevivência e a política interna no maquis da #UNITA, o partido do Galo Negro, #Savimbi, e os danos causados pelos psicopatas na sociedade.

Pode comprar o livro na #Amazon: https://www.amazon.com/Hero%C3%ADnas-…

Na livraria Cha de Caxinde, ou contactar a autora nos links abaixo: https://www.facebook.com/heroinas.da….

https://heroinas.belamalaquias.com/?f…

A Independência da #Rhodesia, uma resenha de vídeos.

#Thread sobre a independência da #Rhodesia, declarada em 1965, porém como diz o #IanSmith “já adquirida de facto pela independência económica e militar antes disto, contrariamente a países que receberam independência na forma de um papel com assinaturas”

#UDI era uma Declaração Unilateral de Independência, sem autorização do Governo Britânico, porem apelam a princípios a Lealdade a princípios Eternos simbolizados pela Coroa Britanica, um pouco como o que aconteceu com os #USA em 1776

O Governo Britânico ficou furioso com o acto de Rebeldia contra seu plano para sua ex-colónia em África, sendo o segundo acto de rebeldia bem sucedido contra si depois da Independência Americana, sendo a #Rhodesia o único pais Africano que se rebelou

Hino da #Rhodesia

O Poder estava repartido entre a minoria Branca, que comandava a economia e o exercito, representado por deputados eleitos, e a maioria Negra cuidava de seus próprios assuntos e representados por um concelho de Sobas, Indaba.

3/4 do Exercito da #Rhodesia era composto por negros, incluindo os famosos Fuzileiros Africanos Rhodesios, RAR, heróis da Malasia e do Egipto

Hino de Marcha dos RAR: Sweet Banana !

Rhodesians Never Die, uma canção popular de Clem Tholet, acabou sendo o Hino nao oficial da Rhodesia

Na altura, e agora, países eram governados por grupos étnicos minoritários, obrigados a serem justos para serem aceites pela maioria , como no #Tchad, porem os Rhodesios eram brancos e por isto era fácil mobilizar quase a #Africa inteira contra eles

Primeiro Ministro Ian Smith tentando defender a independência de seu Pais em uma entrevista com o Conservador Americano William F Buckley

Que foi gravada um mes antes do golpe de Abril 1974 em Portugal que mudaria a geopolítica da guerra

#Rhodesia

Problema politico interno da #Rhodesia resumido:

1 “Poder Popular” Marxista eram usados para aspirantes ao poder para destronar as elites tradicionais

2 Voto tribal tornava alternância Democrática impossível

Tenha o Poder ou seja destruído pelo Poder

O maior aliado da #Rhodesia era a Republica Sul Africana.

Para referencia deixo aqui uma entrevista de B.J. Vorster de 1974, antes do golpe em #Portugal que desencadearia a guerra Civil e Independência de #Angola

#Rhodesia em 1960, sua capital era #Salisbury

#Rhodesia em 1974, sua capital era #Salisbury

A #Rhodesia de Ian Smith, e seus aliados internos Africanos representados pelo Indaba, ira travar uma guerra de 15 anos contra os movimentos revolucionários comunistas negros #ZANLA e #ZAPU de #Nkomo e #Mugabe

#BushWar #Africa

Em inferioridade numérica e cercados de países inimigos, a #Rhodesia adopta uma táctica ofensiva para surpreender o inimigo e criar superioridade táctica local, usando helicópteros e para-quedistas, directamente contra os rebeldes e seus aliados.

Alem das unidades regulares, o Exercito da #Rhodesia tinha varias que eram especializadas:
Selous Scouts, Rhodesian Light Infantry, Rhodesian Africa Rifles, Rhodesian SAS (Special Air Service), , e os Black Boots.

#Rhodesia teve uma Força Área, criada inicialmente para apoiar o Império Britânico na segunda guerra mundial, que foi decisiva para proteger o pais durante a guerra.

O seu comandante mais famoso foi Chris Dixon, o Green Leader.

Os grupos nacionalistas e comunistas negros #ZANU e #ZAPU, preferiam ataques alvos civis desarmados, sendo assim terroristas, um dos mais famosos sendo o abate de um avioneta civil e o assassinato dos passageiros que sobreviveram ao crash em 1978

Os ataques terroristas contra civis, brancos e negros, eram frequentes

Sem aliados, cercado de inimigos e sob embargo, os inimigos da #Rhodesia sabiam que o tempo era ao seu favor, porem massacravam civis, brancos e negros, para espalhar o terror.

Documentário sobre os ataques terroristas contra civis e entrevista ao primeiro ministro Ian Smith

A ultima parada da Infantaria Ligeira Rhodesia, os Rhodesian Light Infantry, #RLI The Saints, quando a #Rhodesia foi obrigado a capitular em 1980, diante do embargo e de uma guerra financiada pela #China e apoiada pelo Reino Unido e países de #Africa

Uma vez no poder, os antigos terroristas lutaram pelo poder entre si, e a minoria branca deixou o pais.

Um dos primeiros crimes do #Mugabe sendo os massacres em #Matabeleland #Gukurahundi

Depois do fim da #Rhodesia, que virou #Zimbabwe, e que era governada agora pelo ex-terrorista #Mugabe, Ian Smith continuou a viver no pais, contrariamente a 90% da minoria branca que emigrou

Foi lhe confiscado seu mandato de parlamentar e seu passaporte

A ultima entrevista de Ian Smith, antes de morrer.

#Rhodesia #Zimbabwe

Bitter Harvest: The Great Betrayal and the Dreadful Aftermath , o livro de Ian Smith, resume seu legado pela #Rhodesia e pela #Africa

#Rhodesia #Zimbabwe

Em 2019 o #Zimbabwe esta falido, a beira da fome e preste a se tornar uma dependência da #China.

Um pouco da cultura e dia dia na #Rhodesia

Armas da #Rhodesia: A Força Área

O governo branco da #Rhodesia foi destruído para que pais tivesse “Governo Maioritário Negro”, porem na pratica esta detido por uma parte da Tribo dos Shona, que extermino parte da Tribo dos Ndebele, e que usa fraude eleitoral desde 1980, em um Governo Minoritário Negro.

Soldados da #Rhodesia: Entrevista do Lt. Richard Stannard que serviu com na SAS, Selous Scouts e South African Recces.
#historia

Originally tweeted by Roboredo (@Roboredo_Rash) on November 11, 2020.

Podcast que explica o estado Zimbabwe como vitima do Ocidente e nao como vitima de seus proprios dirigentes e ganancia

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Juízes e pop stars

Origens do espetacular moralismo judiciário europeu, que alguns acham um exemplo para nós

Pouco antes da queda da URSS, Mikhail Gorbachev reuniu a elite da espionagem soviética e ordenou que a maior parcela possível do patrimônio da KGB fosse privatizada em nome de testas-de-ferro e investida no Ocidente. Isso nada teve a ver com as privatizações legais que se seguiram no governo Ieltsin. Foi uma lavagem de dinheiro – a maior da História. Graças a ela, a KGB, que hoje é ainda o principal esteio do governo Putin, é apenas meia KGB: a outra metade está espalhada no planeta, com nomes em inglês e japonês, com a cara mais capitalista do mundo, subsidiando a guerra cultural, comprando consciências, financiando guerrilhas e tráfico, com cifras que seriam impensáveis no tempo em que o “ouro de Moscou”, para passar ao Ocidente, tinha de atravessar uma complexa rede de lavanderias secretas como a de Armand Hammer, o patrocinador da família Gore. Agora já vem tudo lavado.

Tal é a raiz da expansão aparentemente inexplicável da propaganda esquerdista na década de maior sucesso do capitalismo. Não é nada estranho que essa expansão se desse sobretudo nos meios universitários americanos, hoje tomados pela fúria militante e, como nota René Girard, cada vez mais incapacitados para tarefas intelectuais superiores. Desde a década de 30 o movimento comunista está consciente de que ganhar as classes intelectuais é mais rentável que converter proletários. Apenas isso nunca foi tão fácil quanto hoje: se já na Guerra do Vietnã a URSS e a China gastaram mais dinheiro em propaganda antiamericana dentro dos Estados Unidos que no custeio de material bélico, pode-se calcular o quanto esse gênero de operação se tornou mais maneiro com a KGB transfigurada numa rede sutil e inabarcável de empresas e ONGs ocidentais.

Para fazer uma idéia da quantia envolvida, basta ter em mente que aquele patrimônio, secreto e inacessível mesmo ao Poder Legislativo da antiga URSS, incluía, como apenas um de seus itens, o tesouro nacional espanhol em peças de ouro, acumulado desde Felipe II, levado para Moscou durante a Guerra Civil e, evidentemente, jamais devolvido…

Não por coincidência, tão logo certas ações um pouco anteriores à terceirização da KGB começaram a chamar a atenção na Europa, com a revelação de documentos dos recém-abertos arquivos do Comitê Central do PCUS que atestavam as quantias formidáveis passadas a partidos comunistas, a jornais e editoras e até às principais lideranças social-democráticas do Ocidente na década de 80, a esquerda reagiu com vigor. Ela mobilizou seus agentes no Poder Judiciário para que desencadeassem uma universal caça às bruxas, paralisando e desmoralizando mediante fáceis acusações de corrupção menor todas as lideranças liberais e conservadoras que soubessem demais.

Mas não se tratava só de ocultar o passado imediato: a sucessão de belos espetáculos judiciários, com juízes transformados em pop stars, que foi uma marca dos anos 90 e na qual os caipiras de todo o planeta viram um exemplo de alta moralidade digno de fazer corar os políticos do Terceiro Mundo, serviu para desviar as atenções do público, dando tempo à KGB terceirizada para que se espalhasse por toda parte, discretamente, sem que ninguém atrapalhasse seu próspero comércio de caixas-pretas. Foi a mais vasta operação diversionista de que se tem notícia, feita para encobrir a mais notável trapaça de todos os tempos.