O que tem em comum as palavras de ACJ, “Angola já não tem um povo que quer sofrer atoa”, do Bispo de Cabinda, “Vivemos uma miséria assustadora”, e do Abílio Kamalata Numa “Não é normal um homem viver na casa dos pais aos trinta anos”?
Exprimem o lugar comum que Angola deveria ser um pais rico, que a pobreza é uma anormalidade e o desenvolvimento um direito. Esta claro que dizem estas palavras para fins de mobilização eleitoral, pois a política de Angola se resuma a explicar porque que somos um pais pobre. Antigamente o MPLA apontava a guerra como causa da pobreza porem, depois da necessidade de afastar a tendência JES, passou a concordar com a oposição que o problema era era mesmo a corrupção. Porem é verdade que a pobreza é anormal em Angola ?
Dito de outro modo, o estilo de vida e a cultura do Angolano urbano permite o estilo de vida ocidental moderno que desejado ? Especifiquei Urbano pois um camponês que vive da agricultura de subsistência não é pobre segundo seus padrões, ele produz os produtos necessários para sustentar seu estilo de vida. Mesmo que de um ponto de vida monetário ele vive com menos de um dólar por dia, e chega a ser uma desonestidade o incluir nas estatísticas da pobreza.
Um dos principio básico da Economia moderna é que devemos produzir para consumir, sendo que parte do consumo do presente é sacrificada para investir na produção de amanha, investindo em equipamentos, conhecimento ou infra-estrutura, porem em Angola levamos esta lógica ao contrario, pensando que temos o direito de consumir independentemente da nossa produção. Alguém, algures, tem que pagar.
Sim sei que estou simplificando as coisas, até certo ponto, porem um exemplo simples de como consumimos sem se preocupar com a produção é que triplicamos a população de 2000 a 2022, passando de 15 a 45 milhões de pessoas, apesar da produção de alimentos tenha triplicado. Ao mesmo tempo que as pessoas choram que vivem em dificuldades e miséria, que a comida esta cara, porem fazem o mesmo numero de filhos que faziam quando a comida era barata. Nos países cujo o estilo de vida desejamos e queremos tanto imitar, uns até emigram a primeira oportunidade, um aumento do custo para a educação dos filhos se seguiu de uma redução do numero de filhos, pois as pessoas entenderam que era melhor ter menos filhos se pudessem lhes dar uma Universitária. A escolha contraria seria talvez valida, porem o que seria anormal é fazer escolhas que tornam impossível o objectivo desejado. Em Angola as pessoas não reflectem sobre o impacto de suas escolhas sobres suas condições de vida, pois a ideologia dominante lhe diz que ele é uma vitima de um sistema, de políticas publicas, um agente passivo. Sendo por isto que perduram em seus erros, os ensinando a sua progenitura, que os perduram, culpando o Estado pela consequência de seus actos.
Outro principio básico da Economia Moderna é a redução dos custos de segurança por meio de uma Cultura de Confiança, sendo que o empresário não precisa gastar excessivamente com segurança pois existe um respeito da propriedade privada, uma bem privado ou uma mercadoria pode ser abandonado sem supervisão por um tempo sem prejuízos. Sim existem criminosos e estes são reprimidos pela policia, porem estes são elementos marginais da sociedade, sendo por isto a origem da expressão “Marginal” que serve de sinonimo para criminosos em Angola. Porem em Angola temos uma cultura de desrespeito generalizado a propriedade privada, sendo que na verdades os Angolanos Honestos é que são os Marginais minoritários, pois tendo a oportunidade de roubar, a maioria dos Angolanos vai roubar. Isto aumenta os custos de fazer se negócios em Angola pois cada trabalhador, transeunte, ou mesmo parente é um potencial rapinador, ora até mesmo os parafusos de caminhos de ferro e de postos de alta tensão são judiados ! Esta cultura da rapina tem respaldo e apologia popular, quando vemos nas redes sociais pessoas justificando os assaltos aos camiões de alimentos, a criminalidade, prostituição, como justa “consequência da fome”. Parece que o estômago cheio é a única coisa que impede o Angolano de se transformar em Vandalo. Tendo em conta que o Governo e o Estado recruta seus funcionários no seio de seu povo, uma pratica socialmente aceitável ira se replicar no Estado, criando um estado de corrupção generalizado. Se a pessoa já é rapinador como cidadão privado, ele não mudara quando membro do Estado.
O investidor tem de gastar parte de seus lucros com segurança e sistemas de controle. Isto acaba sendo mais um custo que adiciona aos custos com transporte, energia, saneamento e impostos que deves pagar para ter um empreendimento em Angola. Sendo por isto que algumas empresas recorrem ao expediente de contratar estrangeiros de países com uma cultura mais honesta, porem isto enfurece aos Angolanos que gritam ao racismo … ao invés de reflectir sobre erros.
Obviamente que será difícil que as pessoas aceitam esta explicação, afinal não tem proveito político para nenhum dos Partidos envolvidos, e pode ate causar antipatia pois ninguém gosta de ouvir que tem culpas. Estou a dizer que o povo gosta de sofrer, que o povo não gosta de trabalhar ? Não, estou a dizer que os hábitos e actos do povo nas ultimas décadas não são compatíveis com o estilo de vida moderno que o povo deseja.
Responder que o Pais é rico em recursos naturais é como dizer que uma ambulância pode prevenir um atropelamento, pois os recursos naturais nos permitem apenas participar da riqueza de terceiros, trocando nosso petróleo pela comida da Argentina e pelos electrodomésticos chineses.
Primeiro, se estes perderem interesse em nossos recursos voltaríamos ao nosso estado de pobreza natural, como aconteceu ao Congo Democrático depois da queda dos preços do Cobre e o do Cobalto na década de oitenta.
Segundo, mesmo que a renda petrolífera fosse redistribuída ao povo, na forma de “boas condições de vida”, no final a população iria crescer até superar as receitas petrolíferas, gerando uma crise, como aconteceu com a Argélia. Isto esta a acontecer em Angola, quando vemos que a população passou de 30 a 45 milhões ao mesmo tempo que a produção petrolífera se mantém a volta dos 1 milhão de barris por dia durante os cinco anos.
A Arábia Saudita é actualmente o único pais produtor de petróleo que esta a tentar escapar da armadilha, sim parte dos “investimentos para diversificar a economia”, na boca de todos Angolanos, mas também por meio de uma mudança cultural que deixa claro que cada cidadão cidadão deve trabalhar produzir o que ele quer consumir, pois o tempo de viver a custa de terceiros acabou.
A pobreza tem de parar de ser um escândalo, as vezes é uma maneira que o universo encontrou para te dizer que estas no caminho errado, talvez tens de mudar, parar de desejar o que não podes conseguir, ou produzir mais para poder consumir. Talvez um quarto filho ou namorada, seja uma má ideia.
Como dizia Ortega e Gasset, “A vida é o que você faz, e o que te acontece”, porem em Angola temos apenas em conta a segunda parte, porque permite a oposição atacar o partido no poder, ao ponto de reduzir a sociedade e as pessoas ao estado de elementos inertes, e permite ao partido no poder fingir ser uma entidade super-poderosa que pode resolver nossos problemas em troca da lealdade.
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