Manifestação de 17 de Junho: Os manifestantes são os únicos que têm direitos?
Primeiro gostaria, na qualidade de cidadão privado, lamentar que não foram amplamente divulgados os nomes dos Agentes da Polícia Nacional que morreram cumprindo o seu dever, em defesa da Lei, nos últimos motins que aconteceram em Angola. Que suas almas descansem em paz e que seus assassinos sejam castigados.
Na sequência da manifestação ocorrida no dia 17 de Junho de 2023, pergunto-me se os manifestantes são as únicas pessoas com direitos humanos em Angola?
Parece estranho fazer esta pergunta já que todo mundo está focado nos direitos, alegados e reais, dos manifestantes, mas apenas porque adquirimos o mau hábito de confundir o consenso com a verdade e porque é mais agradável seguir a bala, e acariciar o cão no sentido do pelo. Afinal, não se podem criticar quem luta pelo bem, ou pode ser vítima da pergunta fatal: “És do MPLA?”.
Os manifestantes Revu comportam-se como se a necessidade de notificar o Estado fosse uma imposição ditatorial que limita o seu suposto direito a manifestar-se de modo ilimitado e sem restrição, porque eles não pensam no direito dos outros cidadãos, ironicamente no mesmo momento em que juram lutar por todos. Eles partem de leitura propositadamente analfabeta da lei e fingem incompreensão, porem esta claro.
As manisfetações não carecem de notificação e autorização de modo geral (por exemplo em comicios, etc), excepto em espaços publicos porque existem outros Angolanos que também tem direitos, aqueles que escolheram não ir na manifestação, têm o direito de circular na cidade e realizar as suas atividades, e seus direitos merecem ser protegidos. Os Revu citam o primeiro paragrafo, manifestação em espaços privados, e o aplicam ao segundo caso, manifestação em espaços publicos, não sei se por analfabetismo funcional ou manipulação consciente.
Isto é uma forma de escolher que é muito mais prática e real do que votar, em que teu voto tem apenas um poder estatístico potencial, porém este primeiro direito de escolha é negado pelos defensores da “democracia”, enquanto que se arrogam o direito de tomar como reféns cidades inteiras em qualquer dia que lhes apetecer.
As respostas dos manifestantes Revu a perguntas sobre os direitos das pessoas que não se manifestam têm sido, primeiramente, descontar estas reclamações como sendo de burgueses de classe média que “querem ir à praia”, como disse o Luaty Beirão durante os protestos de 2020. Em segundo lugar, alegam que estão a lutar por todos e por isso têm o direito de se sobrepor à vontade dos outros angolanos. Em terceiro lugar, dizem que quem reclama é “um beneficiado do sistema”. Alguns até vão te pedir para “não falar, para colaborar”. Por ventura, têm medo de que as pessoas não concordem com seus argumentos, porém, em vez de os convencer, tentam intimidar quem pensa de modo diferente para se calar.
São supostamente pela liberdade de opinião, mas qualquer pessoa que tenha uma opinião fora da linha dos Revu é membro do Gabinete de Ação Psicológica, ou a nova modinha que importaram do Brasil: milícia digital.
Talvez as pessoas não concordem contigo porque não têm a mesma visão extremista do mundo, em que és o bem santo e o MPLA é um demônio, porque não
concordam com os teus métodos, ou por acharem que o MPLA esteja certo nesta medida em particular. Estas opiniões são válidas, e és livre de tentar convencer quem as tem, porém, infelizmente a tendência tem sido de intimidar e insultar quem não concorda com os manifestantes Revu.
Se notaram, a mesma retórica e método de agir é usada pelos moto-taxistas e taxistas quando fazem seus protestos: por terem algo a reclamar, auto-proclamam-se líderes, impedem os colegas de trabalhar, sob risco de agressão física, fecham estradas e até impedem pessoas singulares de transportar pessoas em seus carros. As pessoas acham que protesto só acontece quando causa distúrbios e incômodo ao próximo.
Quem os designou para “lutar pelo bem de todos”? Quem os elegeu e quando? Por que sua definição de bem é superior à dos outros angolanos? Ao que sei, o Governo explicou a sua decisão de subir o preço do combustível, sendo que cabe a cada cidadão pensar se aceita ou não, aliás, alguns até podem apoiar esta decisão, e exprimir esta opinião com seu direito ao voto, com seu direito de participar no discurso público ou manifestar. Direitos estes que são tomados como reféns pela turma do “Povo no Poder”, uma paródia do “Em nome do Povo”, que levou o MPLA a cometer erros e injustiças no passado, mas que desta vez vai dar certo porque os revolucionários atuais são mais bonitos?
O que é um protesto pacífico?
Segundo os nossos manifestantes Revu, basta que uma manifestação seja anunciada como sendo pacífica para que seja pacífica, como um bom marido precisa apenas anunciar que não vai bater na mulher no dia do casamento para decidir que o lar não tem violência doméstica. A manifestação é pacífica se não acontecerem atos de violência no decorrer da mesma, contra outros cidadãos e contra a Polícia. Estes atos incluem: impedir o trânsito ao andar no meio da estrada ou criar barricadas, pois limita o direito dos outros cidadãos de andar pela cidade, atacar a polícia com pedras ou outros objetos, queimar pneus pois destrói a propriedade pública e interdita o trânsito, etc. Todos estes atos aconteceram durante os protestos contra o aumento do preço da gasolina e, por isso, estes protestos foram violentos.
Quando estas manifestações são anunciadas, centenas de empresas dispensam seus colaboradores e encerram seus serviços, não porque têm medo da polícia, mas sim dos manifestantes, que juram ser “pacíficos”.
Resumindo:
A manifestação não é um direito ilimitado e unilateral, tem responsabilidades também.
Manifestação é legal se:
1- As autoridades são notificadas.
2- Nenhuma ilegalidade é cometida no decurso da mesma.
Os direitos dos manifestantes não são superiores ao direito dos que escolhem não participar na manifestação, porem os Revu tem medo de sair da narrativa do heroísmo revolucionário, é a zona deles de conforto, só que nos, o resto da população, temos o direito de escolhar um modo de fazer politica sem radicalismo e destruição.
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